Título: Pólo de SC busca baixar dependência do copo plástico
Autor: Vieira, André
Fonte: Valor Econômico, 12/09/2006, Empresas, p. B6

Em 30 anos, uma região num raio de 70 quilômetros da cidade de Criciúma (SC), berço da indústria cerâmica, saiu do zero para consolidar-se como o maior pólo de produção de copos plásticos descartáveis do país. Estimativas dão conta de que a produção nacional chegue a 5 bilhões de copos descartáveis por ano, o que daria quase uma unidade por habitante da Terra. O sul catarinense seria responsável por 60% a 70% do suprimento nacional.

Ninguém na região de Criciúma parece se importar hoje com o título. Espremidos pela forte competição, até por companhias do próprio pólo, empresários ligados às grandes indústrias "copeiras" estão sendo obrigados a rever sua estratégia, sob o risco de sofrer com a "comoditização" do seu negócio.

A mudança no modelo tem vários motivos. "É raro alguém fora do ramo ter o costume de olhar o fundo do copinho branco para identificar a marca da empresa", diz Ernesto Schulz, vice-presidente do grupo Jorge Zanatta, com sede em Criciúma, um dos três maiores fabricantes de copos do país.

Quem conversa com o pioneiro na fabricação de copos na região, Jorge Zanatta, um descendente de imigrantes italianos que começou o negócio nos anos 70, sabe o que isso significa. Depois de servir um cafezinho ao visitante, o pioneiro, hoje aos 81 anos, faz questão de atirar o copo plástico usado no lixo - um ato nada nobre para o produto, mas repetido por milhões de pessoas.

A situação para os fabricantes piorou nos últimos tempos. A indústria de plástico tem sofrido elevados aumentos de custos, provocados pela alta dos derivados de petróleo. As matérias-primas básicas para a confecção dos copos, o poliestireno e o polipropileno, atingiram recordes de preços. Na disputa, impera o preço baixo.

O maior complicador, no entanto, é a mudança pela qual a indústria de transformação de plástico terá de enfrentar: a consolidação. Na região, calcula-se que existam algumas dezenas de fabricantes de copos plásticos. Cerca de meia dúzia contabiliza a maior parcela da produção, centrada em empresas familiares. Os especialistas dizem que o número ainda é alto, levando em conta a obrigação de elas terem de cumprir regras mais rigorosas para a produção.

Enquanto a consolidação não acontece, as empresas optam por estratégias isoladas para crescer seu negócio. "A nossa escolha é estar junto das grandes empresas que possuem projetos de crescimento. Estamos nos organizando para atendê-las", diz Schulz, um ex-executivo financeiro da Hering, contratado há seis anos para mudar a face da Zanatta. O grupo não fala em desistir da fabricação de copos descartáveis, que responde por metade da receita (R$ 440 milhões em 2005), mas está elevando sua fatia ligada às embalagens de filmes plásticos, cuja rentabilidade é maior.

A Zanatta convive com as grandes empresas nas duas pontas. De um lado, a Canguru, uma das empresas do grupo, tem clientes globais. Fornece 80% das embalagens para fraldas, absorventes femininos e materiais de limpeza fabricados pela Johnson & Johnson no mercado brasileiro. Suas embalagens suprem toda a produção nacional de fraldas da Kimberly-Clark e Unilever, além de 70% de certas embalagens para linhas de produção da Procter & Gamble. Do outro lado, a empresa possui fornecedores regionais, como Braskem, cuja política de preço segue as cotações internacionais. "Estamos adotando a mesma linguagem deles", diz Schulz.

Nos últimos tempos, a Zanatta adotou medidas para tornar suas empresas mais parecidas com as que o grupo pretende se espelhar. Sua estrutura societária foi reduzida de 13 para quatro empresas. A empresa já negociou contratos derivativos de matérias-primas plásticas na Bolsa de Metais e Londres (LME) para evitar a volatilidade dos preços e investe num software de gestão da Oracle. Está lançando um fundo do recebíveis, primeira iniciativa no mercado de capitais.

Sob a gestão da família Schlickmann, a Copobras, com sede em São Ludgero, considerada por rivais a maior fabricante de copos de plástico do país, segue outro caminho. Seu foco é acelerar a abertura de fábricas em outros estados para ficar mais próximo dos mercados consumidores. "O frete e o combustível subiram muito nos últimos tempos e a logística neste negócio é fundamental porque o transporte de copo plástico, um material leve, é volumoso", diz Mario Schlickmann, diretor comercial da empresa que administra uma frota própria de 130 caminhões. "O que vai determinar esse negócio cada vez mais é a escala."

Além da filial aberta em 1999, na cidade de Carmópolis, região metropolitana de Belo Horizonte, a Copobras adquiriu ou montou unidades no último ano em Itupeva (SP) e Conde (PB). Mais recentemente, comprou a Indústria de Copos Plásticos da Amazônia (Incoplan), situada na Zona Franca de Manaus, por um valor não revelado. "Nossa intenção é estudar a possibilidade de exportar para mercados andinos."

Schlickmann conta que um dos direcionamentos da empresa é acoplar ao negócio de copos descartáveis outra atividade que renda ganhos maiores. A família também é dona de uma fabricante de embalagens plásticas que deu origem ao grupo nos anos 70. Por ela, vende para clientes, como Sadia e Nestlé. Produz embalagens de poliestireno expandido (isopor). Mais recentemente, o grupo decidiu ingressar, por meio da empresa Incomir, no segmento de envelopes plásticos, tais como os de segurança, com o Sedex e os remetidos pelos bancos com talões de cheques ou cartões de crédito, cujo lacre é violado depois de aberto.

A Braskem, fabricante de resinas, também viu oportunidade de ajudar as empresas da região. Há dois anos, ela introduziu a resina de polipropileno, cedendo em regime de comodato máquinas às indústrias de copos em troca de exclusividade no fornecimento de matéria-prima. A empresa ocupou cerca de um terço do mercado, segundo estimativas, tirando o lugar cativo de produtores de poliestireno como Dow, Basf e Videolar. A tecnologia mudou a cara dos copinhos plásticos. Do tradicional branco, os copos agora podem ser flexíveis (sem rompê-los) e, ao mesmo tempo, transparentes. Uma novidade que a indústria "copeira" diz que tem interesse em disseminar.