Título: Petróleo cai US$ 10 em um mês e indica viés de baixa
Autor: Capela, Maurício
Fonte: Valor Econômico, 12/09/2006, Empresas, p. B7

O preço do barril de petróleo confirma a sua trajetória de queda no mercado internacional. Depois de cair mais de US$ 10 nos últimos 30 dias, o contrato da commodity tipo Brent para outubro, comercializado em Londres, reduziu seu valor em US$ 0,78 e fechou o pregão de ontem em US$ 64,55. Já em Nova York, o produto foi vendido a US$ 65,61, queda de US$ 0,64.

Analistas ouvidos pelo Valor afirmam que o preço internacional do petróleo deverá assumir uma forte trajetória de queda nos próximos meses. "Só um furacão, uma catástrofe climática, ou mesmo uma decisão política radical de algum grande produtor-membro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) modificaria o rumo", avalia Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE).

Esse cenário, que aponta o petróleo a US$ 65 no fim do ano na visão de Pires, ou uma avaliação mais otimistas, de David Zylbersztajn, ex-presidente da Agência Nacional do Petróleo (ANP) e atual presidente da DZ Energia, de que a commodity termine o ano valendo abaixo dos US$ 50, reflete a calmaria que começa a dominar o setor.

Prova disso é a reunião desta segunda-feira da Opep, que controla cerca de 40% do fornecimento mundial deste insumo. Realizado na Áustria, o encontro decidiu que seus membros não vão incrementar a produção atual de 28 milhões de barris por dia. Também evidenciou que o grupo deverá manter uma discreta redução de 500 mil barris na extração diária.

O declínio do valor da commodity, que preocupa os membros da Opep, é fruto não só do cenário de que a economia global poderá se estagnar em 2007, mas dos últimos anúncios. A Rússia, por exemplo, disse recentemente que será capaz de extrair o mesmo que a Arábia Saudita, o maior produtor do mundo, com 8 milhões de barris por dia. Além disso, a BP anunciou que retomará até outubro as operações integrais de seu campo em Prudhoe Bay, no Alasca, de onde sai 8% do petróleo dos EUA.

"Não há uma razão clara que justifique o alto preço do barril de petróleo" avalia David Zylbersztajn. O único senão, lembra o ex-presidente da ANP, é quanto à estreita diferença existente entre oferta e demanda atualmente.

De fato, hoje, a oferta global da commodity é próxima dos 85 milhões de barris por dia, enquanto que a demanda fica ao redor de 84 milhões. Mas Zylbersztajn acredita que ainda exista uma calibragem a ser feita na oferta do insumo, que poderia rapidamente evoluir em 4 milhões de barris por dia.

Contudo, há outro senão: o terrorismo. O número 2 da Al Qaeda, Ayman al-Zawahri, pediu aos muçulmanos que ataquem os interesses do Ocidente e barrem o que chamou de "roubo" do petróleo muçulmano realizado pelos países ocidentais. As informações foram divulgadas ontem por meio de um vídeo na internet

O fato é que por ora as cotações têm sentido a desaceleração na demanda global. A Opep, por exemplo, projeta que o consumo de petróleo na América do Norte aumentará apenas em 90 mil barris diários em 2006, na seqüência de elevações de 230 mil em 2005 e de 520 mil em 2004. Na China, a demanda cresceu em 790 mil barris diários em 2004 e deverá aumentar em 540 mil neste ano. Na Europa, a aceleração vem sendo a menor das três regiões, estima-se crescimento de 20 mil barris diários, 10% do registrado em 2004.

Para o Brasil, o viés de baixa no preço do petróleo é bem-vinda. Até porque a Petrobras, cujas ações preferenciais registraram queda de 3,98% ontem e fecharam cotadas a R$ 39,56, poderá manter a atual política de preços, que mantém sem fortes reajustes o preço do gás de cozinha, diesel e gasolina.

Os cálculos da Rosenberg & Associados, com números do dia 6 passado, mostraram que a gasolina estava 7,73% mais cara no Brasil do que nos EUA. O resultado considera os preços em dólares da gasolina da Petrobras na refinaria e os da costa do Golfo do México, sendo que o dólar usado foi de R$ 2,14

"Qualquer aumento no diesel ou na gasolina tem impacto inflacionário", afirma Adriano Pires. Já o ex-diretor da ANP no governo Fernando Henrique Cardoso vai além. "Nenhum político gosta de mexer no preço do combustível antes de uma eleição", afirma Zylbersztajn. "Essa queda do petróleo deixa o governo mais confortável sobre necessidade de reajustes futuros", completa Pires.

O entendimento, contudo, é que no longo prazo a redução do preço mundial do petróleo possa prejudicar os planos da Petrobras no exterior. Mesmo porque se imagina que uma eventual queda significativa na receita de exportação poderia prejudicar sua capacidade de investimento.