Título: Governo e Petrobras vão à Bolívia retomar negociação
Autor: Schüffner, Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 12/09/2006, Empresas, p. B7

Uma comitiva brasileira viaja na sexta-feira para a Bolívia, onde o ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, e o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, vão iniciar uma nova rodada de conversas com os bolivianos.

Ontem, Rondeau fez uma defesa política da retomada das negociações com o governo de Evo Morales, dizendo que o Brasil "tem um conjunto de possibilidades para ajudar a Bolívia". Ele acenou com a retomada de investimentos de empresas brasileiras naquele país em projetos como o pólo gás químico (da Braskem com a Petrobras), de geração hidrelétricas na fronteira (o complexo do Madeira) e de biodiesel que podem ser realizados no longo prazo. Mas evitou dar a impressão de que o governo vai intervir nas negociações da Petrobras com a Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB), como querem os bolivianos. "O governo brasileiro acha que deve ter possibilidade, no andar dessas negociações, de encontrar uma fórmula para ajudar a Bolívia no que for possível. Mas é a Petrobras quem deve tomar a decisão de voltar a investir", disse Rondeau.

A favor da Petrobras o ministro defendeu a atual fórmula de reajuste prevista no contrato que rege as exportações de gás para o Brasil, e que a YPFB quer aumentar. Rondeau se disse favorável à manutenção da fórmula atual, que prevê uma variação do preço de acordo com a flutuação do petróleo no mercado internacional, em dólares.

Questionado sobre a possibilidade de a Petrobras retomar os investimentos, Rondeau disse que essa é uma decisão da empresa e que vai depender da regulamentação da Lei de Hidrocarbonetos, na Bolívia. Gabrielli, da Petrobras, frisou que a companhia ainda não decidiu retomar investimentos naquele país. "O governo brasileiro tem dezenas, centenas, de interesses na Bolívia que poderia apoiar", disse, evitando mencionar os planos da Petrobras.

Rondeau também falou sobre a polêmica usina nuclear de Angra 3, que ainda não saiu do papel, dizendo que essa fonte de energia só deverá ser viável no Brasil a partir de 2020 e até 2030, "dependendo do esgotamento das fontes hidráulicas, que são a maior vocação brasileira". Segundo ele, a decisão sobre uma nova usina nuclear poderá ser acelerada ou não, dependendo do processo de licenciamento ambiental das hidrelétricas e vai depender, em primeiro lugar, do preço dessa energia e, em segundo, do ritmo dos licenciamentos ambientais para outras fontes, incluindo óleo, gás e biomassa.

"O país não pode parar por conta de energia. Angra 3 é uma oportunidade que está aí e no momento que o sinal de preço for adequado, ela poderá entrar no próximo leilão", disse Rondeau. Atualmente, a energia das usinas Angra 1 e Angra 2 é comprada compulsoriamente, sem a necessidade de competir com o preço de outras fontes.

O ministro participou da abertura da Rio Oil & Gas. As projeções do presidente do Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP), João Carlos França de Luca, a cadeia de petróleo e gás receberá investimentos de US$ 100 bilhões nos próximos cinco anos. Desse total, US$ 75 bilhões virão da Petrobras. Mas o executivo citou alguns entraves para a realização desses investimentos, entre eles a carência de mão-de-obra especializada, de equipamentos, e problemas relacionados ao licenciamento ambiental.