Título: Bann é interditada acusada de poluir o meio ambiente
Autor: Barros, Bettina
Fonte: Valor Econômico, 12/09/2006, Empresas, p. B

A interdição por tempo indeterminado da fábrica da Bann Química em São Paulo gerou mal-estar e um rearranjo emergencial no fluxo de fornecimento às indústrias de pneus instaladas no país. Única fornecedora brasileira de alguns insumos químicos para borracha, a empresa foi interditada no mês passado pela Secretaria do Verde e Meio Ambiente por poluição atmosférica e emissão de resíduos líquidos diretamente no rio, ferindo a legislação ambiental. Recebeu a maior multa já aplicada pela fiscalização municipal: R$ 60 milhões.

Com a produção parada há 39 dias, a Bann diz ter praticamente zerado seu estoque de aceleradores, antioxidantes e aniozonantes, os três insumos utilizados para a fabricação de pneus. Segundo a empresa, 70% da produção vai para os maiores fabricantes do setor. Bridgestone e Michelin afirmam já estar recorrendo a outros fornecedores para suprir suas fábricas.

"Ao ser informado da interrupção, fizemos uma qualificação imediata de fornecedores fora do Brasil", disse Michel Lupiac, responsável pelo desenvolvimento de matérias-primas e compostos da Michelin América do Sul. Ele afirmou que a Bann, seu fornecedor desde os anos 90, "tem grande representatividade para a Michelin".

Raul Viana, diretor de assuntos corporativos da Bridgestone, informou que "teve de resolver a vida sem ela". "Foi um problema, uma paralisação inesperada faz rever a situação com outros fornecedores", disse. Citando aspectos confidenciais, a fabricante não revelou o volume de negócios com a Bann, mas informou que também trabalha com fornecedores como Lanxess e Chemtura.

O fechamento da fábrica provocou um prejuízo estimado de R$ 6,5 milhões à empresa, que emprega 385 pessoas. "Deixamos de vender 600 toneladas de produtos", diz Edmundo Esquiller, diretor industrial da Bann. Outro ponto que preocupa o executivo é uma cláusula nos contratos com clientes que determina que, em caso de não cumprir as entregas, a Bann é obrigada a pagar pelo frete de insumos de outros fornecedores. "Estamos abrindo mercado para a concorrência", diz Esquiller. Segundo ele, a Bann é a única fabricante desses insumos no país e concorre com fornecedores chineses, alemães, americanos e belgas.

Com um faturamento bruto de R$ 60 milhões previsto para 2006 - exatamente o mesmo valor da multa aplicada pelo município - a Bann Química tem sido alvo de reclamações dos moradores do Jardim Keralux, pólo industrial localizado na zona leste da cidade, que culminou com a suspensão de suas atividades no dia 4 de agosto.

A empresa foi enquadrada na Lei de Crimes Ambientais, regulamentada pelo Decreto Federal 3179/99, por emissão de poluentes atmosféricos fora dos padrões ambientais e resíduos líquidos industriais diretamente no rio Mongaguá, um afluente do Tietê. Além disso, a fiscalização municipal encontrou resíduos tóxicos armazenados de forma indevida.

Desde 1989, a empresa já foi multada 33 vezes pela Cetesb. O órgão ambiental diz receber com freqüência denúncias de moradores que reclamam do odor de "ovo podre" do gás sulfídrico emitido pela fábrica. Segundo a Cetesb, só nos últimos dois meses foram registradas dez denúncias. "Toda semana mandamos um fiscal", diz Geraldo Junqueira de Carvalho, gerente da agência da Cetesb do Tatuapé. "É uma empresa prioritária por seu potencial poluidor."

Com planilhas às mãos, Esquiller rebate as críticas e afirma que a empresa tem investido em melhorias na fábrica. "Boa parte das multas são anteriores a esses investimentos", diz ele. Mas admite que, mesmo que volte a operar em breve, o incidente terá arranhado a imagem da empresa. "Isso foi um dano incalculável".