Título: Vazamentos de água consomem R$ 8 bilhões
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Fonte: Valor Econômico, 29/05/2012, Especial, p. F1

O Brasil deixa vazar sem aproveitamento 38,8% da água que produz para distribuição. A maior parte (60%) é perdida ao longo do caminho até as torneiras e a restante é consumida clandestinamente, com prejuízo comercial. Os dados são do Sistema Nacional de Informação sobre Saneamento, que contabilizou uma baixa de R$ 8 bilhões por ano com desperdício de água no país. "Grande parte poderia ser evitada e as atuais obras para expansão da rede adotam medidas de controle, pois em caso de perdas acima de 40% o projeto deixa de receber recursos federais", afirma Ernani Ciríaco de Miranda, do Ministério das Cidades.

Em São Paulo, maior e mais industrializada metrópole do país, a perda hídrica em 2011 foi de 26,8% - quase o triplo das capitais europeias mais ricas.

"A meta é diminuir esse índice para 17% até 2020, com investimento de R$ 4,5 bilhões", revela Paulo Massato Yoshimoto, diretor da Sabesp.

Yoshimoto informa que no ano passado a empresa aumentou em 4% o faturamento em consequência do combate a vazamentos e ligações clandestinas. Com recursos de R$ 1,2 bilhão nos próximos quatro anos, maior parte financiada pelo governo japonês, a empresa instalará novos ramais e substituirá 1,6 milhão de hidrômetros, atingindo 22% dos imóveis no Estado. A verba também será empregada na varredura de 150 mil quilômetros de rede com aparelhagem que detecta ruídos indicadores de vazamento.

Na última década, a política de incentivo ao uso racional, envolvendo parcerias com fabricantes, proporcionou uma redução do consumo pela metade em São Paulo. "Hoje já não há espaço para economia significativa nas residências, e por isso o foco é atacar perdas comerciais", diz o diretor.

"Trata-se de um problema econômico e de escassez, uma vez que a oferta na Região Metropolitana de São Paulo é de 146 metros cúbicos por habitante ao ano, enquanto a Organização das Nações Unidas (ONU) recomenda acima de 1,5 mil metros cúbicos", diz Yoshimoto.

Para reduzir o estresse hídrico e atender o crescimento da população, é necessário todo ano aumentar a oferta em 1 metro cúbico por segundo em São Paulo. "Cada 1% de redução no desperdício cobre o atendimento de 200 mil habitantes, evitando a exploração de novos mananciais", observa.

Yoshimoto lembra que nos últimos anos a ocupação desordenada das periferias exigiu levar água para mais longe, através de bombeamento com pressão elevada que coloca em risco o sistema de tubulações já antigo. "O desafio agora é a região central da capital, para onde o crescimento se desloca, e a expansão não poderá acontecer com medidas paliativas como no passado", completa Yoshimoto.