Título: Brasil precisa de novas frentes de crescimento contra a crise, diz vice-presidente
Autor: Moreira , Assis
Fonte: Valor Econômico, 25/05/2012, Brasil, p. A4

A deterioração do cenário internacional reforça a urgência de o Brasil buscar novas frentes de crescimento econômico, sugeriu o vice-presidente do Banco Mundial (Bird), Otaviano Canuto, ontem, em Paris. Por sua vez, o subsecretário de Assuntos Econômicos do Itamaraty, Valdemar Carneiro Leão, reclamou que efeitos de políticas de economias avançadas podem pôr seriamente em perigo políticas de nações em desenvolvimento, ao manifestar a posição brasileira na conferência ministerial da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Em entrevista à margem da conferência, Canuto avaliou que há menos espaço para respostas contracíclicas por parte de vários países emergentes, incluindo a China. No caso específico do Brasil, ele acha que a margem de reação do país diante da crise não diminuiu quando ela é medida pelas reservas internacionais, espaço fiscal e situação dos bancos domésticos.

O preocupante, ao seu ver, é que riscos de abalo na área internacional, como a saída da Grécia da zona do euro, estão se desenrolando num cenário em que a tendência de crescimento da economia brasileira "é bem mais abaixo daquela em que estava em 2008".

"Vários fatores que impulsionaram a economia brasileira antes da crise de 2008 se esgotaram", afirmou. "A resposta agora teria que ir além de mecanismos contracíclicos numa crise." Ele sugere o reforço de reformas estruturais, incluindo sistema tributário, pente fino nos gastos públicos e aceleração de investimentos em infraestrutura.

Certos analistas, conforme o "Financial Times", estimam que o governo brasileiro foca demais em estimular a demanda do consumo, em vez de fazer reformas politicamente difíceis para melhorar a produtividade e a produção industrial. Canuto acha que o Brasil precisa apostar em frentes de crescimento que vão além do aumento do consumo de crédito, por exemplo. Considera que, no cenário atual, só repetir a dose de 2008 não será suficiente.

Com relação à China, principal parceiro comercial do Brasil, projeções do Banco Mundial apontam aterrissagem suave e um padrão de expansão mais sustentável do que aquele dependente de investimentos imobiliários e exportações. Com o consumo interno aumentando, a demanda por commodities pela China também tende a mudar. Canuto acha que a demanda por alimentos vai continuar forte, enquanto a de commodities metálicas associadas à construção deve cair.

Em intervenção na conferência ministerial da OCDE, o representante brasileiro, Valdemar Carneiro Leão, sugeriu para a entidade levar em conta em suas análises os efeitos de consequências de políticas econômicas das nações ricas, diante dos riscos de prejudicar os países em desenvolvimento.

"Isso está sendo sentido na maneira pela qual políticas monetárias expansionistas foram adotadas por países emissores de moedas de reserva internacional. Essas políticas geraram volatilidade e desalinhamentos prejudiciais nas taxas de câmbio", exemplificou. Além disso, a crise atual revela o quanto os governos têm feito de intervenções, com estímulos monetários e financeiros e apoio direto em níveis sem precedentes para as empresas.

Na área comercial, Carneiro Leão lembrou que ganhos em crescimento, e especialmente em emprego, não vêm só de liberalização comercial. "Medidas complementares de políticas públicas são essenciais e nem sempre são disponíveis para países em desenvolvimento diante de recursos limitados", afirmou, numa resposta às demandas crescentes dos ricos por liberalização de mercados emergentes.