Título: CPI deve convocar Perillo e quebrar sigilo da Delta
Autor: Junqueira, Caio
Fonte: Valor Econômico, 25/05/2012, Política, p. A8

O governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), deve ser o primeiro governador convocado a depor na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga as relações do empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, com autoridades e empresas. Também deve ser aprovada a quebra do sigilo das contas nacionais da construtora Delta.

A decisão para colocar esses requerimentos em votação ocorreu ontem, após os integrantes da comissão optarem por antecipar do dia 5 de junho para terça-feira a reunião administrativa que deve apreciar, ainda, a convocação do governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), e do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB). No entanto, a tendência é de que não haja maioria para aprovar a ida do petista e o pemedebista à comissão.

Dos 30 parlamentares da comissão, 24 são da base governista e 6 da oposição. É essa maioria, liderada pelo PT e pelo PMDB, que atua pela convocação de Perillo. Há, porém, um grupo de "independentes", minoritários, oriundos da base aliada da presidente Dilma Rousseff e da oposição que defende a extensão da convocação de outros governadores.

Foi esse grupo, inclusive, que tentou votar todos esses requerimentos já na reunião de ontem. Mas na última hora houve um acordo entre PT, PMDB e PSDB para que isso só fosse feito na terça. "O adiamento foi uma questão de prudência pois estávamos em menor número e não havia a previsão de deliberações hoje (ontem). Havia o risco de só o requerimento do nosso governador ser aprovado", disse o líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR).

Com o acordo, ele conseguiu que o requerimento de Perillo apresentado pelo deputado "independente" Miro Teixeira (PDT-RJ) e assinado por todos os partidos - até mesmo o PSDB - não fosse colocado em votação. O PMDB e o PT conseguiram com isso também não levar a voto os requerimentos de Agnelo e Cabral, que já começavam a circular, embora sem muita adesão.

A ida de Perillo à CPI se tornou majoritária depois do depoimento pela manhã de Wladimir Garcez, ex-lobista da Delta e ex-vereador pelo PSDB de Goiânia. Ao responder às perguntas, ele deu uma versão diversa da do governador de Goiás para a venda da sua casa. Garcez disse ter entregue três cheques a um assessor do governador. A última versão do governador é a de que ele a vendeu ao reitor de uma universidade goiana.

No relato, contudo, Garcez mandou recado a todos os partidos. Afirmou que "se for relacionar as amizades que eu tenho no campo político, seriam inúmeras". Citou algumas: o ministro da Justiça, José Eduardo Martins Cardozo, o subchefe de Assuntos Federativos do Palácio do Planalto, Olavo Noleto; o ex-presidente do Banco Central e atual presidente do Conselho de Administração da holding J&F, que comprou a Delta, Henrique Meirelles; o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB); o ex-governador de Goiás Íris Rezende (PMDB), cuja mulher, deputada Íris de Araújo (PMDB-GO), integra a CPI; o senador Paulo Paim (PT-RS); e o prefeito de Goiânia, Paulo Garcia (PT).

Na sequência, afirmou que não responderia às perguntas dos parlamentares, alegando direito constitucional de permanecer em silêncio. Alguns deles começaram a defender o fim do depoimento, mas os petistas reagiram, incomodados com as menções a autoridades do governo da presidente Dilma Rousseff. "Ele não pode vir aqui e falar o que quiser e depois não querer responder às perguntas. Temos que ter clareza do jogo político que está colocado", disse o relator, Odair Cunha (PT-MG).

Cunha deu prosseguimento às inquirições, focando na relação de Garcêz com Perillo. Na maioria das respostas, manteve-se calado. Mas aí foi a vez dos tucanos reagirem, acusando Cunha de direcionamento e perseguição política nas suas perguntas. "Não vi uma pergunta direcionada a Delta nacional e ao Distrito Federal, só contra o PSDB e Goiás. São perguntas para atender ao reclame palaciano e registro meu repúdio a essa postura", disse o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP). Cunha negou a acusação. A sessão acabou descambando para uma troca de insultos entre alguns deputados do PT e do PSDB, que foram contidos pelos outros integrantes da CPI.

Os outros dois depoentes, Idalberto Matias de Araújo, o Dadá, apontado pela Polícia Federal como braço direito de Carlos Cachoeira, e Jairo Martins de Souza, compareceram à comissão mas se recusaram a falar. (Colaborou Bruno Peres)