Título: O Brasil que vale ouro
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 16/10/2010, Economia, p. 15

País torna-se o principal mercado para boa parte das multinacionais que exploram a economia doméstica. Consumidores devem gastar R$ 2,2 trilhões em 2010

De patinho feio e relegado a quinto plano pelo capital estrangeiro, por sucessivos fracassos econômicos, o Brasil se transformou em parada obrigatória para as multinacionais ávidas por ampliar seus lucros. E, pelos resultados alcançados, só têm a comemorar. Com os países onde estão suas sedes se debatendo para sair do atoleiro, as empresas vêm tirando proveito daqui de um crescimento sustentado, inflação sob controle, crédito farto e, melhor, um mercado pujante e fortalecido por um exército de 30 milhões de novos consumidores somente nos últimos seis anos ¿ o equivalente a uma Espanha ou três vezes a população de Portugal. Apenas em 2010, a expectativa é de que o consumo doméstico movimente R$ 2,2 trilhões, quantia que deverá passar para R$ 3,4 trilhões até 2015 ¿ salto de fazer inveja a vários países da Europa.

O resultado disso é que, para grande parte das multinacionais instaladas no país, as filiais verde-amarelo já se tornaram responsáveis pela maior parte do faturamento ou estão prestes a assumir a liderança ¿ algo até bem pouco tempo impensável em uma economia que amargou duas décadas de estagnação e um crônico processo hiperinflacionário. É o caso da fabricante da marca Brastemp, a norte-americana Whirlpool. Enquanto, nos Estados Unidos, a empresa vende 3,1 milhões de micro-ondas e refrigeradores por ano, aqui são 4,4 milhões de unidades.

¿Felizmente, o país está colhendo os frutos da estabilidade¿, diz o economista Homero Guizzo, da Consultoria LCA. Com o horizonte de longo prazo completamente visível, as empresas podem planejar investimentos e, por tabela, mapear o mercado consumidor que terão nos próximos anos. A expectativa é de que o Brasil seja alçado à condição de quinta potência econômica do mundo até o fim desta década. Mas antes mesmo de tal previsão se confirmar, o Brasil já comanda as receitas da Dufry (responsável pelas lojas nos aeroportos brasileiros), das suecas Scania e Volvo, da italiana Fiat e da norte-americana Unilever. Para a suíça Nestlé, a francesa Danone, as norte-americanas Avon e GM e a coreana LG, o país está na vice-liderança, mas a um passo do topo.

No setor de tecnologia, o quadro não é diferente. Tanto que o presidente da Microsoft, Steve Ballmer, tem dito que o Brasil é um dos mercados ¿mais quentes¿ quando o tema é a socialização on-line. No país, o número de usuários de Messenger, o comunicador instantâneo da Microsoft, é maior do que em qualquer outro país. O Twitter, o micro-blog que virou febre no planeta, tem no Brasil a segunda maior quantidade de seguidores, atrás somente dos Estados Unidos. A rede social Orkut por aqui também é mais popular que em qualquer outra nação.

Estabilidade Baseado em um mercado de trabalho forte, além da segurança macroeconômica e social, o país conquistou a atenção dos donos do dinheiro, que não têm mais como investir nos seus pares. ¿A receita é simples: o Brasil cresce bem mais do que as economias maduras e que parte das emergentes¿, argumenta Homero Guizzo. ¿A estabilidade está consolidada e o país se mostrou menos vulnerável na crise de 2008 e 2009, o que chamou a atenção do mundo¿, avalia.

Celso Ienaga, sócio-diretor da Dextron Management Consulting, vai além: ¿Nas conversas que temos tido com clientes, investidores e empresas que pretendem entrar no país, o tamanho do mercado doméstico, que é relativamente grande, somado a uma taxa de crescimento superior a 7% neste ano (e que deve se situar em 5% nos próximos), também tem se apresentado como atrativo¿.

Análises da Dextron mostram que o Brasil sempre foi um país de muitas oportunidades para os grandes grupos estrangeiros, mesmo com toda a confusão econômica do passado. Sobretudo para os segmentos de eletroeletrônicos, alimentação, cosméticos e carros ¿ agora, o petróleo está puxando o capital, que também deve migrar, com força, para os ramos de infraestrutura, principalmente rodovias, aeroportos e energia.

Para Ienaga, a oferta de crédito também está fazendo a diferença, por consolidar o mercado consumidor. ¿O brasileiro está amadurecendo e ainda tem um nível de endividamento pequeno frente a outras nações. Se melhorarmos o acesso a financiamentos, com juros em conta, o país se tornará ainda mais interessante, pois se beneficiará ainda mais do consumo das classes C e D, as mais promissoras¿, afirma.