Título: PT terá que refazer prévias no Recife
Autor: Klein , Cristian
Fonte: Valor Econômico, 25/05/2012, Política, p. A11

A luta continua. A disputa interna no PT para saber quem será o candidato à prefeitura do Recife terá um novo round. A comissão executiva nacional do partido decidiu, por 10 votos a 3, anular as prévias realizadas no domingo e marcar um novo confronto, em 3 de junho, entre o prefeito João da Costa e o secretário de Governo de Pernambuco, Maurício Rands.

O prefeito venceu extraoficialmente a votação, por 52% a 48%, mas Rands acusou o correligionário de ter fraudado o processo, com a inclusão de uma lista de filiados inaptos. Em nota após o encontro, a executiva nacional do PT cancelou a prévia, mas negou que tenha havido irregularidade, num esforço de aplacar os ânimos: "No transcorrer da votação, registraram-se algumas falhas que, no entanto, não configuram fraude".

A cúpula do PT justificou a anulação em razão da "nítida indefinição a respeito do colégio eleitoral" e por ter havido "inobservância da resolução do diretório nacional sobre o sistema de votação".

Outro motivo citado foi a judicialização do processo, já que ambas as partes foram à Justiça comum numa guerra de liminares em torno de quais filiados estariam ou não aptos para votar.

A nova disputa será coordenada por uma comissão de quatro dirigentes nacionais do partido, que atuará com dois representantes do diretório municipal de Recife e com o presidente do diretório estadual de Pernambuco. Ambos os diretórios são controlados pelo grupo ligado a Maurício Rands.

A direção nacional fez um apelo para que os dois lados tentem construir um acordo pelo qual se possa até não haver necessidade da nova prévia - o que dificilmente deve ocorrer. Na saída da reunião, João da Costa comentou como cogitaria essa possibilidade. "Chegando à conclusão de que o melhor entendimento é apoiar o prefeito", disse, rindo.

Costa afirmou que queria que as prévias fossem homologadas, mas acatou a decisão do partido e disse se sentir vitorioso. "Foi importante a constatação de que a eleição foi regular. Não houve nenhum voto pirata, fantasma, todos eram aptos, filiados. Nos sentimos vitoriosos porque a maioria dos filiados do PT agora, depois da auditoria, sem nenhum processo indevido, me deu a vitória e eu tenho certeza de que dia 3 essa vitória será repetida", afirmou.

O principal ponto de divergência entre os dois lados, porém, não parece ter sido solucionado pela comissão executiva nacional. Rands saiu da reunião dizendo que o colégio eleitoral já está definido e é de 20.131 filiados, mais um conjunto de cerca de cem pessoas que teriam pago a contribuição partidária até o prazo de 5 de maio.

Já o prefeito afirmou que a comissão de coordenação da prévia ainda vai se debruçar sobre o assunto e apontar a lista de aptos, que, em sua opinião, deve ser maior. João da Costa disse que não considera a vitória extraoficial de domingo, por pouco mais de 500 votos, apertada e passível de não ser repetida. "Vocês diziam que eu não teria condição de vencer aquela verdadeira aliança titânica. Então, ganhar por 500 votos não foi pouco. Foi muito", defendeu.

O prefeito refere-se ao grupo que sustenta a candidatura de Maurício Rands, que tem o apoio do governador do Estado, Eduardo Campos, do ex-prefeito petista e atual deputado federal João Paulo (seu antecessor, com o qual rompeu) e a maior parte da corrente majoritária do partido, a Construindo um Novo Brasil (CNB), liderada no Estado pelo senador Humberto Costa.

Costa, porém, negou que Campos tenha influenciado a decisão da executiva em anular as prévias. "Não teve influência exterior", disse. Há dois meses, Campos, presidente do PSB, negocia o apoio de sua legenda ao pré-candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, pedindo em troca o atendimento de seus interesses e dos de deputados do PSB em algumas cidades.

No fim da reunião, a executiva nacional decidiu atender a duas destas exigências de Campos e "propor" a aliança entre o PT com a pré-candidata do PSB, em Mossoró (RN), Larissa Rosado, filha da deputada Sandra Rosado, líder da bancada pessebista na Câmara, e com o secretário estadual de Ciência e Tecnologia do Rio de janeiro, Alexandre Cardoso, em Duque de Caxias. Os petistas nestes municípios querem lançar candidatura própria, mas a executiva tem a palavra final de homologar e indica, agora, qual será sua posição.