Título: Cronograma acelerado
Autor: Braga, Fernando
Fonte: Correio Braziliense, 16/10/2010, Economia, p. 20/21

O relógio marca 18 horas. Mais um turno encerra-se para milhares de operários que trabalham no faraônico canteiro de obras da Usina Hidrelétrica de Jirau, localizada a aproximadamente 110km da capital rondonense. Enquanto espera um dos muitos ônibus que fazem a condução para os alojamentos cravados em plena selva amazônica, o encanador Élton Souza Cardoso, 24 anos, fuma um cigarro de palha. ¿O trabalho é duro e às vezes até arriscado, mas não tenho do que reclamar. Hoje, recebo quase R$ 1 mil a mais do que eu ganhava em meu antigo emprego¿, conta o funcionário, encarregado de montar as tubulações e as bombas d¿água na margem esquerda da usina.

Exausto, Élton diz não se incomodar com a dura jornada de serviço que enfrenta diariamente. Ele é apenas mais uma entre as quase 12 mil pessoas que dedicam os seus dias para erguer a monumental estrutura de Jirau. Para dar conta do cronograma previsto para a realização das diferentes etapas do projeto, a movimentação de trabalhadores, caminhões e máquinas pesadas nas margens do Rio Madeira é intensa. ¿O maior legado de Jirau será a capacitação das pessoas que poderão ser aproveitadas em outras futuras obras, como a de Belo Monte, no Pará¿ espera o presidente da Energia Sustentável do Brasil, Victor Paranhos.

A estiagem pela qual passa a Amazônia nesta época do ano favorece o ritmo da construção. Com o nível do Rio Madeira abaixo de sua média para o período, o desenvolvimento dos trabalhos intensifica-se ainda mais. Segundo a concessionária, aproximadamente 25% da obra estão prontos. Com isso, a empresa antecipou em 33 meses o início da geração de energia.

Reservatório A hidrelétrica utiliza 46 turbinas do tipo bulbo, que, ao contrário dos equipamentos empregados na maioria das usinas do país, não precisam contar com uma forte queda d¿água para gerar energia. Os motores são instalados de forma horizontal e não vertical, aproveitando a força da correnteza do Rio Madeira. ¿O uso da turbina do tipo bulbo possibilita a implantação do empreendimento em prazos menores, além de reduzir a interferência no ambiente ao nosso redor¿, explica João Paulo Meirelles, engenheiro-chefe da Enesa Engenharia, umas das empresas que compõem o consórcio de Jirau.

Contudo, apesar de desprezar a necessidade de grandes reservatórios, a construção da hidrelétrica não deixou de afetar diretamente quem vive próximo à região onde ela está sendo erguida. O distrito de Mutum Paraná, por exemplo, localizado às margens do Rio Madeira e com uma população de 400 famílias, será totalmente inundado quando Jirau começar a operar. Para reassentar essas pessoas, foi construída uma nova vila a 30km da original, já batizada como Nova Mutum Paraná.

O local, que já começa a receber as primeiras famílias removidas, teve 1,6 mil casas (padronizadas com dois ou três quartos) erguidas e conta com ruas asfaltadas, escolas, igreja, posto de saúde, terminal rodoviário, centro comercial, tratamento de água e esgoto, rede de telefonia e até prefeitura. (FB)