Título: Gigante no meio da selva
Autor: Braga, Fernando
Fonte: Correio Braziliense, 16/10/2010, Economia, p. 20/21

Localizada na região que concentra dois terços do potencial hídrico do Brasil, a hidrelétrica Santo Antônio, distante sete quilômetros de Porto Velho, começou a ser erguida em setembro de 2008. Com suas obras às margens do Rio Madeira e ao lado da sucateada estrada de ferro Madeira-Mamoré, aos poucos a usina desponta no horizonte da capital rondonense e passa a fazer integrar o cenário da cidade. Orçada em R$ 14,5 bilhões, a construção nasce com duas missões: a primeira, fornecer parte da energia limpa que o Brasil precisa para crescer nos próximos anos, além de suprir a necessidade de luz da própria Região Amazônica; e a segunda, provar que um megaprojeto do seu porte pode ser erguido, afetando o mínimo possível o rico bioma da Região Norte.

Para isso, a empreitada foi concebida para aproveitar ao máximo a potencialidade dos recursos hídricos, ao mesmo tempo em que minimiza os impactos ambientais e sociais na região. A saída encontrada pelo Consórcio Santo Antônio, responsável pela usina, foi utilizar turbinas do tipo bulbo, a mesma que está sendo utilizada em Jirau, que ao mesmo tempo aproveita a enorme vazão do Rio Madeira e minimiza a área alagada (confira quadro). ¿Já temos 30% da obra concluída¿, calcula o gerente-técnico da obra, Nelson Caproni Júnior.

Mesmo com 85% da mão de obra local, as oportunidades criadas com a chegada da usina fizeram com que muitas pessoas mudassem para a região em busca de emprego. Foi o caso de Wesley Gomes, de 24 anos, que há um ano se despediu da família em Tocantins para trabalhar como bombeiro hidráulico. ¿É um trabalho duro, mas compensa. Consegui um salário melhor em relação ao que eu ganhava no meu antigo emprego¿, diz.

Relógio Enquanto operários apertam o passo no canteiro de obras, outras equipes mobilizam-se para cuidar do processo de remanejamento das comunidades ribeirinhas e urbanas, que terão suas propriedades alagadas quando a usina começar a operar. Por isso, o consórcio foi obrigado a erguer sete reassentamentos com capacidade para 1,6 mil famílias. Mas nem todos os moradores atingidos pela área da usina aceitaram a transferência para as novas moradias. ¿Apesar de oferecermos casas de alvenaria em vilas com toda infraestrutura, cerca de 45 famílias preferiram receber indenizações¿, conta o coordenador de remanejamento de Santo Antônio, Ivan Silveira.

¿Aqui temos que funcionar como um relógio suíço. Não temos o direito de errar. Nossa intenção é quebrar um paradigma que sempre relacionou a construção de hidrelétricas com destruição¿, diz o presidente do consórcio Santo Antônio, Eduardo de Melo Pinto. Para isso, os responsáveis pelo projeto injetam dinheiro em projetos de compensação em áreas sociais, ambientais, de infraestrutura e de serviços, o que já soma R$ 939 milhões. Mas nem essa soma foi o suficiente para impedir uma greve dos trabalhadores que paralisou as obras por uma semana. Os operários pediram, entre outras reivindicações, melhorias salariais e nas condições de trabalho, como ar-condicionado nos alojamentos, folga aos sábados. No fim, todas as exigências foram atendidas. Afinal, o relógio não pode parar. (FB)

FARAÔNICO Com as 138 mil toneladas de concreto que serão usadas na obra da hidrelétrica Santo Antônio daria para construir 18 torres Eiffel. A quantidade utilizada daria para erguer 39 estádios do tamanho do Maracanã. Já o volume de terra escavada poderia preencher o equivalente a 14 estádios Mário Filho.