Título: Otimismo impera com papéis de logística e rodovias
Autor: Fariello, Danilo
Fonte: Valor Econômico, 14/09/2006, EU & Investimentos, p. D2

As ações dos setores de logística e concessões rodoviárias podem ser consideradas defensivas na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Em um momento cujo cenário externo é principal fonte de preocupações no mercado financeiro, essas empresas são menos expostas a fatores internacionais, porque têm correlação maior com aspectos internos da economia brasileira. As ações da América Latina Logística (ALL), OHL Brasil e Companhia de Concessões Rodoviárias (CCR) têm recomendações de compra da maioria das corretoras de valores, segundo levantamento da Thomson One Analytics.

As empresas de concessões rodoviárias, no entanto, são dependentes de novas licitações do governo para crescer mais, avalia Eduardo Roche, gerente de análise da Modal Asset Management. Logo, essas empresas estão sujeitas a fatores políticos, como a determinação de novas licitações. "A expectativa, porém, é de que novas licitações surjam em 2007, abrindo possibilidades de expansão para OHL e CCR", diz. A OHL já participa, por exemplo, da licitação da Parceria Público-Privada da rodovia MG-050. A estrada em Minas Gerais colaboraria para a diversificação regional da empresa, muito concentrada no interior de São Paulo.

A OHL Brasil proporciona aos investidores uma exposição ao índice IGP-M, pois grande parte da sua receita advém de tarifas de pedágios corrigidas pelo índice. Além da variação dos preços, a HSBC Corretora avalia que o desempenho da ação poderá variar também conforme a atividade econômica brasileira e, por conseqüência, o fluxo de veículos nas estradas. A HSBC tem preço alvo de R$ 35,00 para cada ação ordinária (com voto) da OHL, que implica potencial de alta de 42,8%. Vale lembrar que as estimativas levam em conta as projeções de resultados da empresa, mas dependem das condições de mercado e da procura pelo papel.

Já no caso da CCR, de maior porte, a empresa já possui presença em diversas regiões, mas busca a diversificação entre setores, competindo recentemente pela licitação do Metrô de São Paulo. Mas Roche, da Modal, avalia que essas licitações causariam impacto positivo no valor das ações e dos dividendos apenas no médio e longo prazos. "No curto prazo, essas ações são mais estáveis e têm menor risco, mas podem apresentar boa variação no longo prazo." Segundo a Thomson, a ação ON da OHL tem perspectiva média de alta de 26,5% nos próximos meses. A projeção para a CCR ON é de alta de 10,3%

Mas entre as empresas de logística e concessões rodoviárias, a ALL é a preferida de Roche. Embora ela possa apresentar um balanço mais fraco, decorrente dos gastos com a compra recente da Brasil Ferrovias, esse custo já estaria incorporado ao preço da ação atualmente, diz ele. "A incorporação da Brasil Ferrovias é bom negócio no longo prazo e a procura pela ação da empresa está em fase de retomada no mercado." Na Thomson, a projeção para alta das units (unidade de negociação na proporção de uma ação ON para quatro PN) é de 16,3% nos próximos meses, frente ao fechamento de R$ 17,88 ontem.

A compra dos papéis da ALL é indicada por Luis Otávio Broad, analista do setor da corretora Ágora. Ele prevê alta do papel de cerca de 10% até o fim deste ano, mas diz que a projeção será revista prevendo avanço maior do papel no próximo ano. Neste ano, a unit da ALL já apresentou forte alta, de 86,4% até ontem.

O cenário de 2007 é positivo para a empresa por causa da sinergia e pela redução de custos com a aquisição da Brasil Ferrovias, diz Broad. "A ação tem um risco menor do que a média da bolsa porque não tem ligação direta com o preço das commodities, maior preocupação do momento." Os clientes da companhia - principalmente empresas agrícolas que usam seus serviços para transportar a produção - poderão sofrer mais com a variação das commodities, mas o impacto no caixa da ALL seria diluído nas próximas safras.