Título: Mercado favorece administração da dívida
Autor: Galvão, Arnaldo
Fonte: Valor Econômico, 14/09/2006, Finanças, p. C5

As condições do mercado financeiro, em agosto, foram "positivas" para a administração da dívida pública, refletindo a interrupção da elevação dos juros nos Estados Unidos e também um cenário interno com inflação baixa, contas externas favoráveis e melhor percepção de risco do país. O comentário é do coordenador de Operações da Dívida Pública do Tesouro, Manuel Augusto Silva.

O estoque da Dívida Pública Mobiliária Federal interna (DPMFi), no mês passado, chegou a R$ 1,039 trilhão, aumento de 2,47% sobre julho. Houve emissão líquida de R$ 12,5 bilhões em agosto e o pagamento de juros foi de R$ 12,58 bilhões.

Apesar de o Banco Central estar reduzindo a taxa Selic desde setembro do ano passado, Silva disse que ainda não pode prever o impacto total desse movimento na dívida. "Esperamos que a maior prefixação da dívida e a maior colocação de NTN-Bs retirem um pouco do impacto dos juros. Estamos avançando na estratégia de alongamento e a Selic é apenas um dos aspectos no custo da dívida", ponderou o coordenador.

Nos vencimentos de agosto, as NTN-B (papel remunerado pela variação do IPCA) responderam por 30% do total, o que significa R$ 4,39 bilhões. As LFT, vinculadas à Selic, tiveram vencimentos de R$ 9,78 bilhões (68% do total).

Segundo o Tesouro, a demanda nos leilões de NTN-B mostra um movimento de recuperação. Mas Silva afirmou que esse mercado não será pressionado porque a programação prevista no Plano Anual de Financiamento (PAF) está adiantada. Para este ano, a meta de participação dos títulos ligados a índice de preços admite um intervalo entre 18% e 24%. Em agosto, essa parcela ficou em 21,56%. Em dezembro de 2005, ela era de 15,5%. Silva reafirmou que a parte da dívida ligada à Selic deve encerrar 2006 mais próxima do limite inferior do intervalo do PAF (39% a 48% ). No mês passado, esse tipo de título correspondeu a 42,5% do estoque da DPMFi.

O volume dos papéis prefixados na dívida subiu de 30,36% (julho) para 31,49% em agosto. E considerando as operações de swap, a posição ativa em câmbio foi mantida em patamar negativo de 1,41% do total, o que corresponde a R$ 14,62 bilhões. A participação dos títulos com vencimento em até 12 meses caiu em agosto. Ela era de 41,2% em julho e baixou a 39,19%. O PAF estabelece que o intervalo para essa parcela mais curta da dívida é entre 31% e 36%. Apesar do nível verificado em agosto, Silva afirmou que a meta será cumprida no final do ano. O prazo médio das emissões, em agosto, subiu de 28,5 meses (julho) para 38,5 meses. Esse movimento ocorreu porque houve maior participação dos títulos atrelados a índice de preços, que têm prazo mais longo, e também pelo alongamento do prazo dos demais papéis. No volume de colocação, a participação dos títulos vinculados a índice de preços subiu de 3,2% para 17,7% do total emitido. Mas o prazo médio do estoque caiu de 30 meses para 29,8 meses.

O chefe adjunto do Departamento de Operações do Mercado Aberto do Banco Central (Demab), João Henrique Simão, informou que, em agosto, o volume financeiro diário médio das operações no mercado secundário reduziu-se em 29,8%. Os R$ 10,7 bilhões registrados ficaram próximos ao nível do período março-junho deste ano.

De acordo com o Demab, a redução de R$ 3,9 bilhões nos negócios da Câmara de Ativos da BM&F concentrou-se no segmento de prefixados, que teve, em agosto, a maior queda: de R$ 10,9 bilhões para R$ 6 bilhões. Apesar dessa queda, esse é o grupo com maior representação no mercado secundário. Voltou a subir o volume negociado no mercado secundário com títulos ligados à Selic. O aumento foi de 6,5% em relação a julho, passando de R$ 3 bilhões para R$ 3,2 bilhões. Nos negócios do secundário com títulos ligados a índice de preços, agosto teve o segundo aumento consecutivo. A média diária foi de R$ 1,5 bilhão, o que significa crescimento de 37% sobre o registrado em julho.