Título: Serra conquista 4º aliado e isola ainda mais Haddad
Autor: Lima , Vandson
Fonte: Valor Econômico, 05/06/2012, Política, p. A8

Cortejado por praticamente todas as siglas que lançarão candidatos à Prefeitura de São Paulo nas eleições deste ano, o PR anunciou ontem apoio à pré-candidatura do ex-governador do Estado José Serra (PSDB) e isolou ainda mais o candidato do PT, o ex-ministro da Educação Fernando Haddad, que ainda não tem nenhuma aliança formal. O PR também será mais um a pressionar os tucanos a abrirem a chapa de vereadores - o PSD, do prefeito Gilberto Kassab, também reivindica a coligação proporcional.

O PR negociava a vice de Haddad e estava próximo do acordo, mas a direção nacional vetou a aliança como retaliação ao governo federal, segundo integrantes da sigla. A presidente Dilma Rousseff (PT) não permitiu que a legenda indicasse um novo ministro dos Transportes - o anterior, o presidente nacional do PR, senador Alfredo Nascimento (AM), saiu em meio a um escândalo de corrupção no órgão, e o atual, Paulo Sérgio Passos, embora filiado ao PR, é tratado como indicação pessoal da presidente.

Para Haddad, a perda do PR para o adversário ocorreu por causa da "nacionalização dos temas municipais". "A partir do momento em que o PR decidiu usar São Paulo como moeda de troca para negociar com o governo federal, entendemos como natural o caminho que eles tomaram", disse ontem.

O ex-ministro da Educação disse considerar correta a decisão de Dilma. "A presidenta confia no ministro Paulo Passos. Entende que ele tem toda capacidade, como filiado ao PR, de interagir com o partido de maneira a atender legítimos pleitos e que tem toda condição de exercer o cargo com fidelidade a ela", avaliou.

Presente ao anúncio da aliança com o PSDB, Alfredo Nascimento negou que a recusa ao PT tenha relação com a perda de espaço na máquina federal. "Não interferi na escolha, apenas homologuei. A decisão foi do diretório municipal do PR", disse. Ele justificou a escolha por Serra ao ressaltar, nas entrelinhas, a falta de experiência de Haddad. "Não se pode brincar com uma cidade que tem a responsabilidade que São Paulo tem em relação ao Estado e ao Brasil. É preciso que tenhamos à frente da administração alguém com o perfil e a história de José Serra", opinou.

O presidente estadual do PR-SP, José Tadeu Candelária, disse que dois fatores foram decisivos para que o partido decidisse pelo tucano. "O PR está olhando não apenas para a eleição de 2012, mas para seu futuro. Em 2014, queremos aumentar nossas bancadas de deputados estaduais e federais em São Paulo. E o PSDB se dispôs a nos ajudar nisso. É um acordo para agora e para as próximas eleições", assegurou.

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB) - que deve buscar a reeleição ao cargo daqui a dois anos - foi um dos avalistas do pacto, segundo Candelária. Pelo PR, quem encabeçou as tratativas que selaram a aliança com os tucanos foi o vereador Antônio Carlos Rodrigues, por sua vez suplente da senadora Marta Suplicy (PT-SP).

Outro ponto que pesou na escolha do PR, de acordo com seu presidente estadual, foi o acerto para que a sigla e os tucanos estejam juntos em uma chapa proporcional para as candidaturas a vereador. "É matemática pura aí. Hoje temos cinco vereadores eleitos. Queremos chegar a sete vereadores na próxima eleição. Unir as chapas será bom para nós e para o PSDB", afirmou.

Os tucanos dizem, no entanto, que a coligação proporcional ainda não está definida. Segundo o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), o PR de fato levou a questão à mesa de negociações, mas só o diretório municipal do PSDB poderá bater o martelo a respeito. Vereadores e pré-candidatos tucanos se movimentam para impedir a coligação, com o entendimento de que elegeriam uma bancada maior sem dividir os votos com outras siglas.

Outra dúvida é se o PSD participaria da chapa proporcional, o que aumentaria o número mínimo de votos para fazer uma cadeira na Câmara Municipal. O PSD tem hoje dez vereadores e quer chegar a 12 na próxima eleição. "Vamos calcular com cuidado e ver o que é melhor para todos os envolvidos, para que ninguém saia no prejuízo na hora de dividir voto", afirmou Candelária. O PT também havia ao PR oferecido coligação na chapa proporcional.

A coligação de Serra já conta com cinco partidos: PSD, PV e DEM, além de PSDB e PR. O tucano também deve receber o apoio do PP. Haddad, por outro lado, ainda não fechou nenhuma aliança e negocia com PSB - que deve oficializar o apoio depois do feriado - e PCdoB. Se confirmadas essas chapas, o petista terá cerca de seis minutos e meio de propaganda televisiva, segundo os cálculos do PT, dois minutos a menos que o ex-governador.

Haddad minimizou ontem essa desvantagem. Em sua opinião, Serra, líder nas pesquisas, será alvo de todos os outros candidatos. "O campo de oposição, em qualquer hipótese, terá mais tempo [de propaganda eleitoral] que eles [PSDB]. A atual administração está mal avaliada e os que querem mudar São Paulo certamente estarão juntos no segundo turno", afirmou.