Título: Mercado de capitais virou moda no pós-apagão
Autor: Capela, Mauricio
Fonte: Valor Econômico, 14/09/2006, Empresas, p. B1

As empresas de energia no Brasil têm apostado cada vez mais suas fichas de capitalização no mercado acionário nos últimos anos. Depois do racionamento de energia de 2001, que demonstrou a necessidade por novos investimentos, grandes grupos foram à bolsa para fazer caixa ou mesmo alongar suas dívidas.

A lista é extensa e não faltam exemplos. CPFL Energia, Equatorial, Energias do Brasil, Cia. Energética de São Paulo (CESP), Neonergia e a holding Brasiliana foram ao mercado nos últimos tempos. E o movimento foi feito tanto na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), como na de Nova York.

Um bom exemplo é a oferta secundária de papéis preferenciais da AES Transgás. Controlada pela holding Brasiliana, a Transgás, na verdade, está oferecendo ações de outra empresa da holding, a Eletropaulo, que estão em seu poder. Estima-se que a operação injete quase R$ 1,3 bilhão no mercado.

Essa, no entanto, não foi o grande movimento envolvendo ativos da AES no Brasil. Um dos passos mais importantes do grupo aconteceu no fim de 2003, quando houve uma emissão de debêntures conversíveis em ações ordinárias de US$ 510 milhões. O objetivo daquela operação, que criou a Brasiliana, foi equacionar o endividamento de mesmo valor.

Poucos meses depois desse movimento, a CPFL lançou ações ordinárias na Bovespa e emitiu American Depositary Receipts (ADRs) no pregão de Nova York. E tudo foi feito no mesmo dia, ou seja, em 29 de setembro de 2004. Atualmente, a empresa tem ao redor de 18% dos seus papéis no mercado.

Mais recentemente, em julho último, a CESP também foi à bolsa e captou R$ 2 bilhões com a venda de ações preferenciais. Em paralelo a esse movimento, o governo paulista subscreveu R$ 1 bilhão em ações ordinárias e R$ 200 milhões em preferenciais, o que totalizou um aumento de capital de R$ 3,2 bilhões. Parte do dinheiro injetado pelo governo foi obtido com a privatização da empresa de transmissão Cteep, vendida em junho à colombiana ISA por R$ 1,19 bilhão.

Além das emissões de ações houve também quem remodelasse a operação e até mudasse de nome no país. É o caso da Neoenergia que substituiu a holding Guaraniana. Controladora da Coelba, Celpe e Cosern, além das geradoras Itapebi (BA) e Termopernambuco (PE), e a comercializadora GCS Energia, uma das principais metas da alteração foi rentabilizar ativos.

Já o grupo português EDP fez diferente. Agrupou em maio de 2005 seus ativos no país, avaliados em R$ 9 bilhões, na holding Energias do Brasil e lançou ações. Passado um ano da emissão, o papel movimenta diariamente R$ 7 milhões.

Todas essas iniciativas, o que inclui também o Grupo Rede, dizem analistas, é resultado de uma série de medidas decorrentes do novo modelo elétrico. Uma das mais importantes é a garantia de repasse de custos integrais ao consumidor. É a famosa revisão tarifária, que protege as margens de lucro. (MC)