Título: Grupo Rede prepara lançamento de ações no Nível 2 da Bovespa
Autor: Capela, Mauricio
Fonte: Valor Econômico, 14/09/2006, Empresas, p. B1

O Grupo Rede, que atua principalmente no setor de distribuição de energia no interior paulista, Mato Grosso, Paraná, Tocantins e Pará, prepara uma nova (desta vez bem mais expressiva) oferta pública de ações entre setembro e outubro próximo. O presidente da empresa, Evandro Coura, contou ao Valor que a meta da iniciativa é equalizar a maior parte da dívida líquida no curto prazo e consolidar financeiramente o grupo.

"Essa oferta será feita no Nível 2 de governança corporativa da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa)", afirma o executivo. Segundo Coura, a empresa já contratou os bancos Unibanco, Credit Suisse e Itaú BBA para estruturar a operação.

Procurados, Itaú e Credit Suisse confirmaram a contratação. Já o Unibanco disse que não podia falar sobre o assunto, mas a instituição está na minuta do prospecto enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Com faturamento líquido consolidado de R$ 3,05 bilhões e o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (lajida) de R$ 824 milhões no ano passado, o Grupo Rede tem hoje um endividamento líquido de R$ 2 bilhões. Desse montante, 60% é de longo prazo e 40% vence no curto prazo, ou seja, o correspondente a R$ 800 milhões.

Apesar de manter em segredo alguns detalhes da operação, o Grupo Rede necessariamente precisará disponibilizar pelo menos 25% do seu capital total, o mínimo exigido pelas regras do Nível 2 da Bovespa.

Mesmo sendo difícil estabelecer o valor exato da transação, analistas do setor ouvidos pelo Valor estimam que os papéis do Grupo Rede deverão seguir ao menos o preço pago por ações de outras empresas elétricas que foram ao mercado de capitais. Se esse parâmetro for mantido, a cotação de cada ação poderia alcançar entre R$ 14 e R$ 16.

Esse valor é praticamente o mesmo usado em março deste ano pela Equatorial Energia, controlada pelo GP, que fez uma oferta pública de ações também no Nível 2 da Bovespa e obteve R$ 16,67 por unit. Cada unit continha uma ação ordinária e duas preferenciais.

Muito embora tenha negociado 32,4 milhões de units na oportunidade, o que lhe rendeu R$ 540,2 milhões, a Equatorial inicialmente havia imaginado outro valor. A empresa havia estipulado seu unit com um preço menor, de R$ 14,5.

O Grupo Rede, que está gastando R$ 23 milhões para estruturar essa oferta pública, usa também o mecanismo das units. Com uma diferença: cada uma das 35,6 milhões de units terá um papel ordinário e quatro preferenciais. O valor contudo ainda não consta na minuta da proposta.

"Essa oferta vai aumentar o fluxo diário de negócios da companhia, que é muito pequeno", afirma uma fonte do setor. De fato, atualmente o Grupo Rede tem cerca de 3% do capital total no mercado, o que lhe rende uma movimentação média diária no acumulado deste ano até setembro de R$ 28,8 mil nas ações ordinárias e de R$ 35,6 mil nas preferenciais. Ontem, por exemplo, as ordinárias movimentaram R$ 1,3 mil, enquanto que os papéis preferenciais R$ 2,7 mil.

"O baixo giro na bolsa do grupo acontece também porque a empresa tem pequenas distribuidoras de energia e atua em mercados que não são expressivos. Tanto que não estranharia se essa estruturação tivesse como meta a venda futura", afirma um analista de banco, que preferiu o anonimato.

A distribuidora Nacional, que atende a região de Catanduva e Novo Horizonte no Estado de São Paulo, é sempre apontada como um dos ativos do grupo que desperta o interesse do mercado. Mas Evandro Coura trata de enterrar a pretensão de algum interessado. "Não está à venda", garante o presidente.

O fato é que, mesmo se o grupo negociar a empresa de uma vez só, por estar no Nível 2 da Bovespa, os controladores precisarão respeitar, por exemplo, o direito de tag along. Isso significa que o investidor que possuir a ação ordinária terá direito a 100% do valor pago pelo papel e o acionista preferencial receberá 80% do montante.

Não é só isso. O Nível 2 da Bovespa exige que a companhia siga o padrão contábil das demonstrações financeiras usado nos Estados Unidos e adote a Câmara de Arbitragem de Mercado para resolver eventuais entraves. Além disso, precisará montar um conselho de administração com pelo menos 5 pessoas, sendo que 20% desse conselho terá que ser independente.