Título: Onda de consolidação do setor continuará, prevê PwC
Autor: Durão, Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 14/09/2006, Empresas, p. B6

A indústria de mineração deve viver um processo acelerado de consolidação nos próximos dois a três anos. Na visão de Hugh Cameron, líder global de mineração da PricewaterhouseCoopers, das 40 maiores empresas do setor, devem restar apenas 20. Ele acredita que devido aos altos preços do minério e de as grandes mineradoras estarem trabalhando a plena capacidade, há espaço para novas companhias. Mas, eles terão de ser grandes, caso contrário serão engolidos pelas gigantes do setor.

Recentemente, aconteceu a aquisição da canadense Falconbridge pela suiça Xstrata. Agora a Companhia Vale do Rio Doce está com um processo em andamento para comprar a canadense Inco. A AngloGold, que é o braço de ouro da Anglo American, também deverá deixar o portfólio da companhia sul africana. A Anglo American vem sendo fatiada pela família Openheimer, que além de colocar à venda a Anglo Gold, também negocia a empresa de celulose do grupo.

Cameron disse que a família tem como foco a área de diamantes, razão pela qual já fechou o capital da De Beers, que virou uma empresa familiar, segregada das demais. A Kumba, empresa de minério de ferro do grupo, está sendo reestruturada, devendo abrigar um sócio minoritário estratégico sul africano com 20% do seu capital. Na visão de Cameron, a Anglo American tende a ficar com as áreas de minério de ferro e diamantes e com muito dinheiro em caixa por conta das vendas dos outros ativos. "Mas, se encolher muito, corre o risco de ser alvo de oferta hostil", diz.

Esse cenário de um mercado de aquisições em crescimento, tem como pano de fundo, na visão de Cameron, uma trajetória de estabilidade dos preços das commodities minerais e metálicas em níveis elevados no médio prazo, em um ambiente de demanda ainda relativamente aquecida, capaz de continuar garantindo generoso fluxo de caixa para as grandes mineradoras. Por isso, comprar ativos em operação, mesmo que estejam com preços no pico, é hoje "o caminho mais rápido" para as gigantes atenderem as necessidades mais imediatas dos seus clientes. "Investir em novos projetos incluindo suporte logístico, pode ser caro e demorado e as empresas têm pressa."

Para o especialista, o mercado de mineração deve se manter em relativo equilíbrio até 2009, apesar de "uma pequena recessão" nos Estados Unidos. Cameron prevê queda da demanda de minério e metais no mercado americano, mas garante que a China continuará absorvendo um volume grande desses insumos, com destaque para o minério de ferro, apesar de ir reduzindo gradualmente seu ritmo de expansão nos próximos dois a três anos. A surpresa, segundo ele, virá da Índia, que vai emergir no curto prazo como a nova potência em expansão da Ásia. Para sustentar o novo pique de crescimento, a saída da India será comprar minério no mercado internacional para suprir a demanda local, já que explorar suas reservas vai levar tempo.

Cameron prevê um "boom" na indústria de aço indiana, que opera com metas agressivas de expansão, da ordem de 80 milhões de toneladas ao ano em meados da próxima década. "A tendência da India é seguir o modelo econômico da China e seu governo está trabalhando nesse sentido."

O especialista avalia que o Brasil tem uma indústria de mineração muito concentrada na Vale. Ele não vê este fato como ruim, pois se o país tivesse várias pequenas mineradoras não teria visibilidade neste mercado, ao passo que a Vale, uma das gigantes junto com BHP Billiton e Rio Tinto, é líder do mercado transoceânico de minério de ferro. A possível compra da Inco foi encarada pelo especialista como um grande negócio para a brasileira. "Mesmo pagando um preço caro, a possibilidade de retorno para a Vale é elevada."

No mapa mundial de Cameron, a África é apontada como o grande mercado futuro para a mineração, tendo em vista as grandes reservas de minério e metais inexploradas no continente. Sul-africano de origem, ele disse que as multinacionais da mineração já estão aportando lá com seus projetos "greenfields", como é o caso da Vale.