Título: Trabalhador da Inco teme futuro nas mãos da Vale
Autor: Moreira, Ivana
Fonte: Valor Econômico, 14/09/2006, Empresas, p. B6

Trabalhadores da mineradora canadense Inco estão apreensivos quanto à possibilidade de mudanças na gestão caso o controle seja assumido pela brasileira Companhia Vale do Rio Doce. Essa foi a impressão deixada em Alex Patterson, Charles Champbell e Dan O´reilly, representantes do United Steel Workers (USW) que chegaram ao país no início da semana. Em Belo Horizonte, eles participaram do Congresso Nacional de Trabalhadores do Setor Mineral.

O USW, sindicato que representa operários do Canadá e também dos Estados Unidos, teme ter com a Vale os mesmos problemas que enfrenta com a siderúrgica Gerdau. "A Gerdau, que tem má fama, é o exemplo de multinacional brasileira que eles têm", conta José Drummond, assessor de relações internacionais da Central Única de Trabalhadores (CUT).

Segundo Drummond, os canadenses entraram em contato com a CUT, em busca de informações sobre o relacionamento com a Vale e foram convidados a participar do congresso.

A avaliação dos canadenses é de que as condições do contrato de trabalho dos funcionários da Inco, empresa com mais de cem anos, são melhores do que as dos empregados da Vale. A preocupação é de que a Vale tente impor uma nova cultura de relações trabalhistas, não reconhecendo os acordos negociados pelo sindicato e desrespeitando conquistas já alcançadas pelos canadenses, como salários mais altos que a média. De acordo com os líderes da USW, os mineiros da Inco são hoje melhores remunerados na comparação com médias salariais de cada país.

Na visão dos representantes de 15 sindicatos ligados a trabalhadores da Vale, presentes ao congresso, a mineradora brasileira é uma empresa que não distribui de forma justa seus ganhos e mina a ação dos sindicatos com estratégias de comunicação interna para iludir seus empregados, cerca de 30 mil em todo o país. "A Vale nunca quer repassar", diz Sérgio Luiz Guerra, secretário do Sindimetal, do Espírito Santo. Ele ressalta que, apesar dos enormes ganhos do primeiro semestre, a Vale abriu a negociação do reajuste de salários, em junho, oferecendo 0%. O sindicato pediu 10% e a empresa acabou fechando em 3% a partir de janeiro de 2007. "Isso é brincadeira", reclama.

Segundo João Trevisan, tesoureiro da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Setor Mineral, a dificuldade de negociação é a mesma quando trata-se da Participação nos Lucros e Resultados. "Os empregados não percebem que a mineradora está ganhando muitíssimo com o aumento dos preços e paga muito menos do que poderia." De acordo com Trevisan, a realidade sindical brasileira é um retrato preocupante para os colegas canadenses, acostumados a um maior equilíbrio de forças na relação entre capital e trabalho.

De acordo com a assessoria de imprensa da CVRD, os sindicalistas canadenses não fizeram qualquer contato com a empresa. Se tivessem procurado, garantiu a assessoria, teriam sido recebidos por executivos da companhia.