Título: Integração de sistemas favorece a expansão
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Fonte: Valor Econômico, 05/06/2012, Especial, p. F8

A expansão da energia eólica no Brasil pode ser realizada num regime de complementaridade com outras fontes de energia, avaliam especialistas. A força dos ventos pode atuar em conjunto, por exemplo, com a geração de energia solar ou hídrica, mitigando os riscos financeiros e de fornecimento. De acordo com estudos realizados por entidades do setor, as condições climáticas do país favorecem a implantação desses sistemas conjuntos. "No Brasil, há excelentes níveis tanto de irradiação solar quanto de condições de vento. Isso pode ser um fator importante na expansão dos dois sistemas", afirma o presidente da Associação de Indústria de Cogeração de Energia (Cogen), Carlos Roberto Silvestrin.

O pesquisador Osvaldo Soliano Pereira, diretor do Centro Brasileiro de Energia e Mudanças Climáticas (CBEM), ressalta que complementaridade entre as energias solar e eólica pode ocorrer em momentos de pico de geração. "A maior incidência de vento ocorre de madrugada. Em contrapartida, venta menos nos momentos de pico de irradiação solar", explica.

Para a presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), Elbia Melo, uma das dificuldades para a implantação de sistemas conjuntos ainda é o alto custo de geração solar. O custo oscila entre R$ 300,00 e R$ 400,00 por megawatt-hora, praticamente o triplo da eólica. Mas o presidente da Cogen ressalta que a tendência é que os custos diminuam nos próximos anos.

Em países como a Espanha já existem sistemas funcionando em conjunto, mas no Brasil o desenvolvimento ainda está em fase inicial. A Companhia Centrais Elétricas do Pará (Celpa) está construindo quatro sistemas isolados para atender à comunidade Araras, no município de Curralinho, no arquipélago do Marajó, utilizando um sistema híbrido de energia (eólico, diesel e solar). De acordo com a distribuidora, será uma das primeiras comunidades brasileiras a ter implantado o sistema de energia pré-pago. A obra faz parte do Programa Luz para Todos e possui a cooperação técnica da Eletrobras e da agência alemã GTZ.

A geração será feita por turbinas eólicas e por módulos fotovoltáicos, sistema que também possui um banco de baterias para armazenamento da energia. O gerador diesel ficará de reserva, projetado para operar somente nos períodos de pequena disponibilidade de recursos eólicos e solares, e quando a bateria estiver descarregada.

Pesquisadores da Universidade Estadual do Ceará (UEC), Federal do Ceará (UFC) e do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) estão desenvolvendo um projeto para a geração de energia elétrica através da complementaridade das fontes eólica e solar fotovoltáica, combinado com o uso do hidrogênio. "Foi verificada uma possibilidade de complementaridade no uso dessas fontes, principalmente no Ceará. Porém, essas são fontes intermitentes, pois possuem certa variabilidade em suas saídas de energia. Assim, buscamos trabalhar com o hidrogênio como vetor energético para fins de armazenamento", diz o pesquisador Elissandro Sacramento, da IFCE.

O projeto é financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) mas segundo Sacramento, dos R$ 248 mil aprovados, apenas R$ 50 mil foram liberados, o que vem dificultando a compra de equipamentos para o sistema.

Embora raros no Brasil, projetos com sistemas similares já são desenvolvidos em outros países. Um dos integrantes do projeto cearense, Philippe Poggi faz parte de pesquisa com o mesmo perfil na Universidade da Córsega, na França.