Título: Brasil encolhe no mercado global da Volks
Autor: Olmos, Marli
Fonte: Valor Econômico, 14/09/2006, Empresas, p. B7

O título de maior exportadora da indústria automobilística brasileira não interessa mais à Volkswagen. E não se trata de uma decisão circunstancial baseada na desvantagem cambial. A participação das vendas externas na produção da montadora será reduzida dos mais de 40% do ano passado para menos de 30% em 2007. Esse ajuste será então mantido, afirma o presidente da Volkswagen do Brasil, Hans-Christian Maergner.

A Europa também deixará a lista dos destinos dos carros fabricados pela empresa no Brasil daqui a alguns anos. Segundo Maergner, no lugar do modelo brasileiro Fox, o mercado europeu poderá ser abastecido pela nova fábrica da Volks na Rússia, que deverá estar em plena atividade daqui a cerca de dois anos, produzindo carros pequenos.

"Não me interessa mais ter a Volkswagen como maior exportadora do setor", afirma Maergner. Segundo ele, os custos de produção no Brasil estão muito mais elevados que os de países do Leste Europeu e também da China, onde a Volks tem duas joint ventures com empresas locais.

Com 264,5 mil veículos completos embarcados, as receitas com exportação da Volks somaram US$ 2,1 bilhões e um superávit de US$ 1,4 bilhão em 2005. Maergner acredita, porém, que o título de maior exportadora poderá continuar com a Volks porque as demais montadoras também deverão reduzir suas vendas externas.

Em plena fase da reestruturação que exige corte de pessoal, a maior montadora do Brasil se ajusta para produzir menos. No ano passado, o volume de produção de carros e comerciais leves da Volkswagen somou 614 mil unidades. Para este ano, o presidente da empresa calcula chegar a 586 mil e as primeiras projeções para 2007 indicam um total de 570 mil veículos.

Segundo Maergner, o ajuste projetado pela montadora prevê maior concentração de esforços no mercado interno, que apresenta boas perspectivas. De janeiro a agosto, as vendas de carros Volks no Brasil aumentaram mais de 16%. "Também deveremos continuar abastecendo os mercados da América do Sul", afirma o executivo. Mas a fábrica da Argentina também deverá receber novos produtos, afirma, como conseqüência da vantagem competitiva.

Maergner critica a falta de uma política industrial para o setor automotivo no Brasil. Cita como bem-sucedido o exemplo da África do Sul, país em que ele viveu durante seis anos e onde, por meio de um entendimento entre indústria e governo, foi adotado um programa permanente que reduz os impostos de importação em troca de exportações.

Outra referência, segundo o executivo, é a China, que adotou a obrigatoriedade de joint ventures com empresas locais para aprender a fazer carros com as multinacionais. "Nós ensinamos os chineses a desenhar os automóveis, ensinamos a fabricá-los e agora eles nos ensinam o que fazer com isso", destaca. Ele conta que nos últimos três anos a Volks elevou a produtividade em 35% no Brasil. "Mas isso ainda é insuficiente", diz

Há dois anos e meio no comando da maior produtora de veículos do país, o executivo alemão diz que constantemente fala ao governo brasileiro sobre a necessidade de o país perseguir uma política industrial de longo prazo. Mas o executivo demonstra desânimo em relação a eventuais medidas nesse sentido. "É preciso entender que esse país perderá competitividade a longo prazo", afirma.

A direção da Volkswagen trabalha com uma projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 3,5% em 2007 e uma inflação de 4,5%. Mas Maergner diz que um país emergente como o Brasil deveria ter índices de crescimento econômico entre 7% e 8% ao ano, faixa em que se situam os países do bloco denominado Brics - sigla que engloba Brasil, Rússia, Índia e China.