Título: Indianos rejeitam concessões a países em desenvolvimento
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 14/09/2006, Brasil, p. A2

A Índia resiste a uma maior abertura comercial também na rodada de negociações Sul-Sul, que prevê troca de concessões tarifárias só entre países em desenvolvimento, e, portanto, sem beneficiar os ricos. Ontem, o governo indiano propôs corte automático de apenas 15% a 20% nas tarifas entre os participantes, enquanto a Argentina (em nome do Mercosul) sugeriu algo entre 20% e 30% e a Malásia mostrou-se a mais ambiciosa, com proposta de redução de 50%.

Essa negociação é realizada através do Sistema Global de Preferências Comerciais (SGPC), mecanismo da Agência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad). Foi lançada em São Paulo há mais de dois anos. Agora, países como a Argentina querem acelerar as discussões, para fechar um acordo em 2007.

Em outubro, ficará definido quais países vão realmente entrar no acordo final. Atualmente, 40 participam, incluindo os do Mercosul, Índia, Tailândia, Coréia do Sul, Indonésia, Egito. A China está fora, para alívio da maioria, que teme trocar concessões com Pequim e fragilizar suas indústrias.

A definição do tamanho dos cortes tarifários deve ocorrer até o fim do ano. A expectativa é de que acordo seja complementado por negociações setoriais entre países mais interessados em acelerar entre eles o comércio de determinados produtos.

"A Índia é um mercado do maior interesse para nós, por isso contamos com mais flexibilidade", afirma Reinaldo Gonçalves, presidente da Associação dos Exportadores brasileiros de Frangos (Abef). Alfredo Chiaradia, o secretário de Comércio Exterior da Argentina, estima que a negociação Sul-Sul poderá mesmo estimular o relançamento da Rodada Doha na Organização Mundial do Comércio (OMC).

O diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, estará neste fim de semana na assembléia anual do FMI e Banco Mundial, em Cingapura, para alertar banqueiros sobre o que eles podem ganhar com a liberalização do comércio de serviços.