Título: Brasil, Índia e África do Sul querem que comércio trilateral atinja US$ 10 bilhões
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 14/09/2006, Brasil, p. A2

Brasil, África do Sul e Índia pretendem ter, no próximo ano, um fluxo comercial de US$ 10 bilhões, uma meta planejada em 2004 e ainda não atingida por "lacunas e diversidades comerciais e regionais", como admitiram os próprios representantes dos chefes de Estado das três nações. O compromisso foi reiterado ontem, durante a 1ª Reunião da Cúpula Índia-Brasil-África do Sul (Ibas), realizada no Palácio do Itamaraty.

Depois de reunir-se com o presidente da África do Sul, Thabo Mbeki, e o primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva exaltou a reunião ampliada realizada pelo G-20, no Rio de Janeiro, no fim de semana passado. "Ela foi uma demonstração de que o mundo caminha com muita força para que a gente tenha uma reversão na geografia comercial mundial", afirmou o presidente.

Lula defendeu, durante o encontro, sua política "terceiro-mundista", afirmando que, no Brasil, "existem vozes contrárias ao adensamento das relações Sul-Sul". O presidente mostrou-se a favor de "uma geografia comercial que distribua corretamente a riqueza que nós conseguimos comercializar, que dê oportunidade aos países mais pobres de colocar os seus produtos agrícolas nos mercados dos países desenvolvidos e que permita, de uma vez por todas, que o subsídio agrícola seja extirpado da agricultura no mundo inteiro".

Após o encontro, foram assinados memorandos e acordos nas áreas de biocombustíveis, sociedade de informação, agricultura, navegação mercante e transporte marítimo e normas técnicas. O primeiro-ministro Singh lembrou que um dos setores que podem ganhar um novo impulso a partir das relações trilaterais é o de segurança energética. "O Brasil tem uma larga experiência na área do etanol; a Índia, no setor de energia eólica e solar; a África do Sul, no campo do carvão, gás e combustíveis sintéticos. O Ibas pode mostrar-nos novas alternativas", disse.

Empresários sul-africanos mostraram a evolução do comércio entre a África do Sul e os demais integrantes da cúpula, no período compreendido entre 1994 e 2005, sinalizando a possibilidade de um incremento ainda maior nas relações econômicas a partir do momento que os acordos assinados ontem entrem em vigor. No intercâmbio com o Brasil, as exportações somavam US$ 100 milhões em 1994 e subiram para US$ 300 milhões em 2005. Já a importação deu um salto considerável: os sul-africanos importavam do Brasil US$ 110 milhões em 1994 e hoje importam US$ 1,2 bilhão.

A relação comercial brasileira com a Índia também intensificou-se nos últimos cinco anos. O comércio bilateral entre os dois países, que somava pouco mais de US$ 500 milhões em 2000, hoje representa US$ 2,3 bilhões. "O comércio com os países em desenvolvimento também é qualitativamente importante, pois envolve produtos de maior valor agregado do que média daqueles exportados pelo Brasil.

No caso específico da Índia e da África do Sul, 87% das nossas vendas são de produtos manufaturados. Nossos principais itens de exportação para a Índia são aviões e para a África do Sul, automóveis", informou Lula.

O presidente da África do Sul, Thabo Mbeki, defendeu que o Ibas é a oportunidade de "mudar a vida dos nossos povos, promovendo progresso na qualidade de vida e avanços nas metas de desenvolvimento e redução da pobreza". O ministro do Comércio e Indústria da África do Sul, Mandizi Mpalwa, lembrou que existem diferenças e complementaridades entre os três países. "Espero que na próxima reunião do Ibas, no ano que vem, tenhamos superado essas lacunas para que a nossa parceria decole", afirmou Mpalwa.