Título: Investimento ajuda a recuperar atraso
Autor: Biancarelli ,Aureliano
Fonte: Valor Econômico, 05/06/2012, Especial, p. F12

Os investimentos do BNDES na área de inovação saíram de R$ 1,6 bilhão em 2011 para estimados R$ 2,7 bilhões neste ano, um salto de 65%. Os três principais programas da Fapesp voltados para pesquisa em sustentabilidade reúnem 400 cientistas, 1.200 estudantes de pós-graduação e recursos de R$ 292 milhões. O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) é a maior instituição de fomento nacional. A Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) é a maior financiadora de pesquisa do país.

O salto e o rumo dos investimentos dessas duas instituições revelam que o país busca recuperar o tempo que perdeu por não investir em pesquisa e inovação - especialmente na área do desenvolvimento sustentável. "A política de desenvolvimento produtivo do BNDES coloca o aumento da inovação como um dos seus principais pilares e metas", diz Leonardo de Oliveira Santos, gerente do departamento de Avaliação, Inovação e Conhecimento do banco.

"A tendência do mercado é que a inovação venha a ser integrada nas estratégias das empresas, como já foi a questão da qualidade, mas ainda falta muito investimento para isso", afirma Felipe Maciel, gerente de Inovação do mesmo BNDES.

Governo e empresas têm muito o que fazer. Apesar do aumento em investimento nos últimos anos, o Brasil está longe da concorrência. Estima-se que, ao longo de 2012, os desembolsos públicos e privados em ciência, tecnologia e inovação atinjam US 1,2 trilhão no mundo. Estados Unidos, China e Japão, juntos, aplicarão cerca de US 700 bilhões. Brasil deve investir US$ 25 bilhões.

Ainda assim, o "Brasil vive hoje um momento favorável, pois existe um alinhamento forte entre a visão do governo, da academia e das empresas no sentido de valorizar a inovação", diz Carlos Eduardo Calmanovici, presidente da Anpei (Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras). "A academia já tem um nível de geração de conhecimento que pode suportar programas ambiciosos de inovação enquanto as empresas tiveram uma evolução muito grande, mas ainda é pouco se comparado a países como Índia e China", afirma.

A Anpei reúne cerca de 240 associados, entre empresas de diversos setores e entidades orientadas à pesquisa e desenvolvimento. Apesar do pequeno número, seus associados - que vão desde Embraer e Petrobras até companhias de pequeno porte - investem duas a três vezes mais em inovação que a média nacional. Juntas, "representam mais de 60% do investimento empresarial em inovação", diz Calmanovici.

A associação criou um espaço para que as empresas apresentem seus "cases". "No último encontro, em Fortaleza, 80% dos "cases" em inovação apresentados estavam relacionados a temas da sustentabilidade", diz o presidente. Os recursos em inovação, por ser ela um processo transversal e presente de várias maneiras em diversos programas, são difíceis de serem quantificados.

Várias linhas de empréstimos do BNDES, sejam reembolsáveis ou não, trazem incentivos à inovação. Um deles é o Fundo Clima, executado desde o ano passado com recursos do Ministério do Meio Ambiente vindos da "participação especial do petróleo".

O Fundo já conta com R$ 560 milhões para projetos de tecnologias mais eficientes na redução dos gases de efeito estufa. São seis subprogramas com "projetos objetivos" que vão do transporte eficiente, a motores e bombas de menor consumo, até o combate à desertificação, voltados para o Nordeste. "O Fundo Clima tem tudo para ser o grande instrumento de política nacional sobre mudanças climáticas brasileiras", diz Marcio Macedo, chefe do Departamento de Meio Ambiente do banco. "Com taxas quase simbólicas, de 2,5% a 5,5% ao ano, o Fundo já tem recursos, já é operacional, e tende a ser o programa nacional mais ousado, voltado para uma política industrial", diz.

Outro fundo, o BNDES Tecnológico - ou Funtec - destina-se a fomentar instituições de tecnologia e de apoio que objetivam estimular o desenvolvimento tecnológico e a inovação de interesse estratégico. "O objetivo do Funtec é permitir o desenvolvimento de inovação que tenha a possibilidade de chegar perto da implementação no mercado, até uma planta piloto, por exemplo", diz Marcio Macedo. "Essa associação entre centro de pesquisas e as empresas é o foco não reembolsável do BNDES nessa parte de inovação", afirma.

Na grade de incentivos à pesquisa e sustentabilidade, a Fapesp se destaca com três grandes projetos de "repercussão internacional", diz Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da fundação paulista. O Biota-Fapesp, Programa de Pesquisa em Caracterização, Conservação, Recuperação e Uso Sustentável da Biodiversidade do Estado de São Paulo, foi lançado em 1999.

Seu objetivo é conhecer, mapear e analisar a biodiversidade paulista, incluindo a fauna, a flora e os microrganismos, mas, também, avaliar as possibilidades de exploração sustentável de plantas ou de animais com potencial econômico, além de subsidiar a formulação de políticas de conservação dos remanescentes florestais.

O Biota também é denominado Instituto Virtual da Biodiversidade por integrar pesquisadores de várias instituições e estudantes via internet. O programa envolve 650 pesquisadores entre cientistas e pós-graduandos e já recebeu investimentos de R$ 93 milhões.

O Bioen, Programa Fapesp de Pesquisa em Bioenergia, lançado em 2008, objetiva estimular e articular atividades de pesquisa e desenvolvimento utilizando laboratórios acadêmicos e industriais para promover o avanço do conhecimento e sua aplicação em áreas relacionadas à produção de bioenergia no Brasil. Conta com 300 cientistas, 600 pós-graduandos e investimentos de R$ 134 milhões, incluindo R$ 5 milhões da indústria.

O terceiro programa, de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais, pretende que resultados de pesquisa do programa auxiliem na tomada de decisões informadas cientificamente com respeito a avaliações de risco e estratégias de mitigação e adaptação. O programa busca desenvolver "tecnologias apropriadas para o futuro, não somente concernentes a tecnologias inovadoras para mitigação de emissões, mas também tecnologias para adaptação em todos os setores e atividades, uma vez que algum grau de mudança climática já se tornou inevitável". "Os três programas se complementam como um grande esforço de pesquisa em sustentabilidade com ótima repercussão internacional", diz Brito Cruz, diretor científico da Fapesp.