Título: PT e PSDB montam confronto na CPI
Autor: Junqueira , Caio
Fonte: Valor Econômico, 08/06/2012, Política, p. A6

A poucos dias daquela que promete ser a semana mais tensa na CPI do Cachoeira, as bancadas ligadas aos governadores do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), e de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), montam as estratégias para os depoimentos.

Os petistas querem esclarecer temas ligados ao objeto da comissão, como a participação do grupo do empresário Carlinhos Cachoeira no governo de Goiás e a complexa trama envolvendo a venda da casa de Perillo, além de dúvidas sobre seu crescimento patrimonial. A expectativa de que, após sua fala, fique claro aos integrantes da CPI a necessidade de quebrar seus sigilos bancário e telefônico.

Já os tucanos pretendem levantar temas controversos da trajetória de Agnelo, como sua passagem pelo Ministério do Esporte. O objetivo é desestabilizá-lo com perguntas inesperadas que ensejem a posterior quebra de sigilo, se possível já na reunião administrativa da quinta-feira.

Para tanto, integrantes do partido têm se encontrado com os pouquíssimos deputados distritais da oposição ao petista, como Celina Leão (PSD), além de aliados de Agnelo insatisfeitos ou até mesmo rompidos com seu governo, como os deputados federais Izalci (PR-DF) e Reguffe (PDT). Izalci, por exemplo, imprimiu dossiês de 500 páginas com dados sobre a vida de Agnelo e distribuiu a alguns parlamentares para subsidiá-los na inquirição.

Mas a maior aposta do PSDB é no desempenho do deputado Fernando Francischini (PR), delegado licenciado da Polícia Federal que desde dezembro tem sido um dos principais opositores de Agnelo em Brasília. Embora paranaense e eleito pelo Estado, Francischini vive há muitos anos em Brasília, é casado com uma brasiliense e teve seus filhos na capital federal.

Isso fez com que, desde que assumiu seu primeiro mandato na Casa, em fevereiro de 2011, fosse constantemente procurado e municiado com informações sobre o governador. Tanto que é o autor de representações contra Agnelo no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Uma delas, apresentada em dezembro, pede a prisão do governador e de seu irmão, dentre outros motivos, por enriquecimento ilícito. Francischini disse que vai abordar esse e outros temas "ainda não publicados". "Vou fazer perguntas que vão doer porque não saíram em lugar nenhum, são "exclusivas". Estou me preparando há semanas para esse momento", disse.

Segundo ele, sua atuação contra Agnelo lhe rendeu perseguições políticas, como grampos telefônicos e invasões a sua caixa de correio eletrônico por integrantes do governo do Distrito Federal. Além da difusão da informação de que ele teria participação em chacinas em presídios no Espírito Santo, quando foi secretário de Segurança Pública do Espírito Santo. "Se isso serviu para alguma coisa foi para me instigar mais ainda. O problema é que ele [Agnelo] pensa que eu sou o candidato do Aécio ao governo do Distrito Federal contra ele. Eles criaram essa situação me transformaram na oposição a eles."

No PT, há receio quanto ao comportamento de Francischini. Por isso, a bancada promete atuar para defender Agnelo de agressões e perguntas sem relação com o objeto da CPI. A avaliação é de que o enfrentamento não é o estilo do petista e, por essa razão, correligionários precisarão assumir esse papel. A estratégia tucana de ampliar as questões já foi identificada pelo partido, motivo por que advogados de Agnelo estão colaborando com informações sobre os processos a que ele responde.

"Não há nada que ligue Agnelo a Cachoeira. É o contrário, Cachoeira não conseguiu fazer negócios no governo. Então não será surpresa se, na ausência de ligação, apareçam outros assuntos. No caso do Perilo, o difícil é não ter o que perguntar. No do Agnelo é ter o que perguntar", disse o deputado Geraldo Magela (PT-DF). Ele deixou a Secretaria de Habitação do Distrito Federal e retomou nesta semana o mandato na Câmara para auxiliar o governador nessa operação política. Fez o mesmo caminho Paulo Tadeu (PT-DF), ex-secretário da Casa Civil e homem forte do governo local.

Por sua vez, a bancada tucana tem tido uma postura diversa em relação ao depoimento de Perillo terça-feira. Acreditam que o governador é autossuficiente e não precisará de tanta ajuda quanto Agnelo. Tanto que irão deixar o relator da CPI, Odair Cunha, e os parlamentares perguntarem primeiro para deixar quaisquer eventuais dúvidas sobre sua fala serem esclarecidas por último. "Ele está bastante seguro. Nossa tranquilidade é saber que ele há muito tempo queria ir à CPI, diferente dos outro governadores", disse o deputado Vanderlei Macris (PSDB-SP).

Ocorre que essa confiança também é compartilhada pelos petistas, que propagam a certeza do envolvimento do tucano com Cachoeira. "O problema dele é ter entregue uma cota de seu governo à organização criminosa. A situação dele é muito complicada", disse o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP).