Título: Índia e Brasil querem ampliar intercâmbio
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 13/09/2006, Brasil, p. A4

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou ontem a visita do primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh, ao Brasil, para reforçar a importância da união comercial entre os países do Hemisfério Sul e criticar, de forma sutil e indireta, países como o Uruguai, que ameaçam deixar o Mercosul por conta de acordos comerciais com os Estados Unidos. "Lógico que ainda não conseguimos tudo o que queremos e, certamente, não será fácil. Temos parceiros que pensam diferente, temos adversários, gente que quer negociar com os outros de forma privilegiada, e não conosco", afirmou Lula, no Palácio da Alvorada.

O presidente prosseguiu afirmando que a visita de Singh ao Brasil "é o coroamento de uma coisa que há pouco tempo Índia e Brasil ousaram sonhar e ousaram acreditar que era possível". Segundo Lula, a disposição e determinação política dos dois países acabam por estimular parcerias comerciais entre outros países em desenvolvimento.

"Individualmente, seremos apenas mais um país no mundo. Mas, juntos, seremos mais que um país, seremos uma comunidade que envolve Índia, Brasil, China, África do Sul, Argentina e tantos outros países que resolveram levantar a cabeça e dizer ao mundo: nós queremos negociar, nós queremos comprar, nós queremos vender", disse o presidente. Lula celebrou a primeira visita de um governante indiano ao Brasil em 38 anos - a última visita oficial foi da ex-primeira ministra, Indira Gandhi, em 1968. Lembrou a expansão do intercâmbio comercial entre as duas nações, que passou de US$ 400 milhões, no final dos anos 90, para US$ 2,3 bilhões em 2005.

O presidente ressaltou a importância do encontro de hoje, quando estarão reunidos, além de Lula e Singh, o presidente da África do Sul, Thabo Mbeki, no Fórum de Diálogo Brasil, Índia e África do Sul (Ibas). "Essa é uma aliança entre três grandes democracias, onde convivem distintas etnias e culturas, que se associaram na busca de um mundo mais justo e democrático", afirmou Lula.

Singh afirmou que sua visita superava "um hiato de 38 anos entre Brasil e Índia" e assegurou que vai empreender todos os esforços para aprofundar ainda mais as relações bilaterais. Lembrou que Índia e Brasil compõem, ao lado de China e Rússia, os BRICs, grupo de países em desenvolvimento que se juntaram para traçar uma nova geografia no cenário econômico mundial. "Esta é uma viagem de descoberta para explorarmos todos o escopo de possibilidade de parcerias", afirmou Singh.

O primeiro-ministro indiano não escondeu sua admiração por Lula, que chamou de amigo, irmão e um estadista na luta pelos países mais pobres. "Eu lhe agradeço, presidente Lula, por tudo o que senhor é."

Durante o encontro entre Lula e Singh, foram assinados memorandos e acordos bilaterais que permitem parcerias nas áreas de mineração, ferrovias, pesquisas agropecuárias, biocombustíveis, energia e serviços de modo geral, além de padronização de normas técnicas para facilitar a produção de peças e equipamentos para exportação. Um dos documentos prevê exploração de petróleo e gás natural nos dois países, além da comercialização desses produtos. De acordo com o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, um grupo de trabalho será criado para analisar os projetos.