Título: Planalto decide dar asilo a senador boliviano
Autor: Murakawa , Fabio
Fonte: Valor Econômico, 08/06/2012, Internacional, p. A8

O governo brasileiro decidiu conceder asilo político ao senador boliviano Roger Pinto, que está abrigado na Embaixada do Brasil em La Paz desde o dia 28 de maio. Líder do bloco opositor Convergência Nacional, ele é alvo de mais de 20 processos em seu país por delitos de desacato e corrupção e alega ser vítima de perseguição política devido a denúncias que fez contra o governo de Evo Morales por corrupção e envolvimento de funcionários públicos com o narcotráfico.

Oficialmente, o Itamaraty diz que ainda está analisando o pedido de asilo feito por Pinto à presidente Dilma Rousseff. Mas representantes do governo brasileiro já comunicaram autoridades bolivianas que a decisão já está tomada, segundo apurou o Valor.

Apesar de a concessão de um asilo poder ser interpretada como o reconhecimento de que há perseguição política na Bolívia, o governo brasileiro não pretende dizer isso de maneira explícita.

Mas o Valor apurou que a decisão tomada pelo governo brasileiro partiu da constatação de que há sinais de parcialidade da Justiça e de cerceamento de defesa em alguns dos processos movidos contra o senador.

Temendo um estremecimento das relações bilaterais, diplomatas brasileiros discutem com seus pares bolivianos o momento e a forma mais adequados para fazer o anúncio. Também negociam a concessão de um salvo-conduto, para que o senador possa deixar a embaixada rumo ao aeroporto sem ser preso.

Pinto teve ordem de prisão decretada contra si porque, no dia em que chegou à representação diplomática brasileira, deveria ter comparecido a um tribunal de Cobija, capital do Departamento (Estado) de Pando, para depor em um dos quatro processos que responde por corrupção - os outros 16 são por desacato.

Autoridades brasileiras já disseram ao senador que um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) será deslocado para transportá-lo ao Brasil. Pinto, por sua vez, pediu para ser levado para Brasília, onde tem muitos amigos senadores, como Sérgio Petecão (PSD), do Acre, Estado vizinho a Pando, sua terra natal. "Ele está com medo de ficar na fronteira. Ali é presa fácil [para matadores]", disse ao Valor Petecão, que afirmou também não ter a confirmação de que o Brasil concederá asilo a Pinto.

O avião da FAB pode ainda fazer uma escala em Rio Branco, para onde a mãe, a mulher, uma filha e um neto do senador fugiram na semana passada. A família alega que um grupo de simpatizantes do presidente Morales ameaçou queimar sua casa em Pando e também solicitou asilo ao Brasil, após atravessar a fronteira.

Oficialmente, o governo boliviano diz ainda não ter sido comunicado da decisão de Brasília de conceder asilo ao senador e afirma que vai respeitar a decisão brasileira. "No futuro é possível que o Brasil faça um anúncio sobre o asilo. Essa é uma decisão soberana desse país e nós respeitaremos isso. Mas, até o momento, não há nada", disse a ministra de Comunicação Amanda Dávila à mídia local.

Nos bastidores, porém, La Paz continua tentando evitar a concessão do asilo. Há ainda o temor de que o governo boliviano não conceda o salvo-conduto, o que empurraria a embaixada em La Paz a uma situação semelhante à que ocorreu em Tegucigalpa em 2009. Na época, o então presidente de Honduras, Manuel Zelaya, permaneceu durante mais de quatro meses na embaixada brasileira, após ter sido deposto por um golpe. "Se não houver salvo-conduto, ele [Pinto] está disposto a ficar para sempre na embaixada", disse uma fonte próxima ao senador.

O Valor apurou que o Brasil não pretende fazer o anúncio até que o salvo-conduto seja concedido, para não dar a impressão de que quer pressionar o governo boliviano, mas não vai esperar indefinidamente que essa situação se resolva.