Título: Para mercados, BCs estão impotentes
Autor: Hilsenrath , Jon
Fonte: Valor Econômico, 08/06/2012, Internacional, p. A9

A alta mundial das bolsas perdeu gás ontem enquanto investidores ponderavam os limites da capacidade dos bancos centrais de melhorar o cenário da economia global. Os investidores se aliviaram um pouco com a ideia de que os bancos centrais estão com o dedo no gatilho, caso a crise da zona do euro piore e o crescimento mundial se enfraqueça ainda mais. Mas esse otimismo foi minado pela crença de que políticas de juros, sozinhas, não podem fazer muito mais do que já têm feito para levantar economias abatidas por uma gama de problemas e pela incerteza sobre até que ponto os bancos centrais estão dispostos a estimular o crescimento.

Tanto nos Estados Unidos quanto na China, a Europa é um motivo de preocupação em particular. A Corporação de Investimento da China, o gigantesco fundo soberano asiático, está cortando sua carteira de ações e dívida em euro, disse o diretor do fundo, Lou Jiwei, ao "The Wall Street Journal".

"Há um risco de que a zona do euro desmorone, e esse risco está aumentando", disse Lou.

Ontem, os investidores em ações se animaram a princípio pela surpreendente decisão do banco central chinês, o Banco do Povo da China, de cortar a taxa básica de juros para empréstimos de um ano. O banco baixou a taxa em um quarto de ponto percentual, para 6,31%, e tomou algumas pequenas medidas para liberar o altamente regulado nível de taxas de juros que os bancos podem oferecer aos depositantes. As iniciativas são um sinal da crescente preocupação das autoridades chinesas com a desaceleração da economia.

Mais tarde, o presidente do banco central americano, o Federal Reserve, Ben Bernanke, decepcionou alguns investidores ao não indicar novas ações do Fed para impulsionar a economia, durante um pronunciamento no Congresso. Ele ressaltou alguns acontecimentos positivos na economia dos EUA, como a melhora nas vendas de imóveis e no setor de construção, e o fato de os bancos americanos estarem bem capitalizados, mas abordou extensivamente os riscos para a recuperação econômica, como a Europa.

Bernanke deixou claro que há uma série de opções na mesa para discussão pelos diretores do banco central durante a próxima reunião de política monetária, nos dias 19 e 20 de junho. "Meus colegas e eu ainda estamos avaliando", disse ele. A questão principal que eles precisam responder, disse Bernanke, é se a economia será forte o suficiente para causar um progresso significativo na redução do desemprego, que ficou em 8,2% em maio.

O corte de juro da China, anunciado depois do fechamento dos mercados asiáticos, ajudou as bolsas da Europa a registrar altas sólidas pelo segundo dia consecutivo. O índice FTSE 100 subiu 1,2% e a bolsa italiana, que havia sido duramente atingida pelos novos espasmos da crise da zona do euro, subiu 0,9%.

Nos EUA, as bolsas começaram o dia fortes, mas a alta perdeu fôlego no fim do pregão. A Média Industrial Dow Jones conseguiu subir 46,17 pontos, ou 0,4%, terminando em 12.460,96 pontos. Foi suficiente para estender a sequência de altas por três dias seguidos, período no qual a Dow subiu cerca de 3%. Já a bolsa Nasdaq, carregada de empresas de tecnologia, caiu e o índice S&P quase não mudou.

"A mensagem que vem dos bancos centrais é que "nós estamos aqui e nós estamos atentos, e se for necessário estamos preparados para fazer algo muito significativo e criativo"", disse Marc Stern, diretor de investimentos do Bessemer Trust, que administra uma carteira de US$ 65 bilhões. "No entanto, há uma ressalva muito importante no sentido de que eles também estão dizendo que "nós não podemos fazer tudo sozinhos; os chefes de Estado e legisladores têm que fazer a parte deles"."

Depois de uma brutal onda de vendas de ações, commodities e outras classes de ativos, no mês passado, e de um monte de dados econômicos recentes mostrando uma desaceleração mundial, investidores cada vez mais acreditam que uma ação de bancos centrais não está muito longe.

Vários acontecimentos poderiam afetar o raciocínio do Fed na sua próxima reunião, em especial a Europa. Entre eles estão as negociações para recapitalizar os bancos da Espanha e as eleições na Grécia em 17 de junho, que podem determinar se o país vai ou não permanecer na união monetária.

O Banco Central Europeu deixou de cortar juros na reunião de quarta-feira, mas o presidente Mario Draghi deu a entender que poderia fazer algo mais tarde. Ontem, o Banco da Inglaterra também deixou de cortar juros.

Alguns economistas estão dizendo que os bancos centrais têm de reduzir mais os juros e aliviar tensões financeiras. "Precisamos de uma expansão monetária mundial, mas isso precisa do BCE", disse Kenneth Rogoff, um professor da Universidade Harvard e ex-economista chefe do Fundo Monetário Internacional. Os níveis das taxas de juros são muito importantes para investidores porque eles afetam as decisões de investimentos e gastos das pessoas e das empresas, influenciando assim o crescimento econômico. Os juros também podem reduzir a carga de dívida passada e são uma variável fundamental usada por analistas para calcular o valor das ações.

Mas investidores, e muitos diretores do Fed, têm dúvidas sobre se juros baixos podem trazer algum benefício. "Tem-se colocado ênfase demais no apoio do Fed à economia", diz Brian Jacobson, principal estrategista de carteira da Wells Fargo Asset Management, que administra US$ 210 bilhões. "Não é que os juros já não estejam baixos o bastante, não é que os bancos não tenham reservas o bastante."

Autoridades monetárias em países emergentes podem ter mais espaço para agir. Isso pode ser o caso, especialmente, na China, disse David Mann, diretor de análise regional do banco Standard Chartered, em Nova York. "E não é só em termos de política monetária, elas também têm espaço para estimular usando política fiscal, assim como acelerando o ritmo de aprovação de projetos de infraestrutura."