Título: Péres deve pedir a cassação de Suassuna
Autor: Jayme, Thiago Vitale
Fonte: Valor Econômico, 13/09/2006, Política, p. A6

O senador Jefferson Péres (PDT-AM) indicou ontem que pretende pedir a cassação do senador Ney Suassuna (PMDB-PB), acusado de envolvimento com a quadrilha das Sanguessugas. O pedetista não deverá apontar para a ligação direta do pemedebista com a máfia das ambulâncias, mas reprovará sua omissão na repressão à conduta de seu assessor direto, Marcelo Cardoso, contra quem pesam fortes indícios de participação no esquema. "Não analisamos apenas as responsabilidades penais do parlamentar. Seu comportamento, por ação ou omissão, também pode determinar se houve ou não quebra de decoro", disse Péres, relator da representação contra Suassuna no Conselho de Ética do Senado.

A declaração de Péres foi dada momentos depois de Suassuna prestar depoimento por quase quatro horas ao Conselho de Ética. A sessão foi aberta à imprensas a pedido do acusado. Ao deixar a sala do colegiado, o senador Jefferson Péres afirmou já estar pronto para apresentar seu relatório, o que será feito na próxima quarta-feira. Ele isentou Suassuna de participação direta na ação da quadrilha. "Ficou demonstrado que não há prova cabal. Não está comprovado, nem por indícios, que houve qualquer recebimento de propina pelo senador", afirmou Péres para, em seguida, fazer a ressalva: "Não estou inocentando o senador".

O ponto fraco da defesa de Suassuna, no entendimento de Péres, diz respeito ao conhecimento do pemedebista de que suas assinaturas estavam sendo falsificadas. Em dezembro de 2005, Suassuna recebeu um telefonema de sua assessora. Foi questionado sobre uma emenda no valor de R$ 1,6 milhão já assinada por ele. "Essa eu não assinei. Ou assinei sem perceber", teria dito o senador à funcionária. No dia seguinte, o parlamentar perguntou ao assessor Marcelo Cardoso sobre a emenda. "Foi um equívoco e já está sanada", teria respondido o servidor. Marcelo era o responsável direto pelas emendas e apontado pelas investigações como suposto participante do esquema das sanguessugas, inclusive com possível recebimento de propina.

"Diante de um fato tão grave, de falsificação de uma assinatura, o senador deveria ter pedido a abertura de sindicância ou de um inquérito policial", avaliou Péres. A emenda de R$ 1,6 milhão foi transformada, depois, em R$ 3 milhões. Em seguida, refeita para o valor de R$ 5 milhões para compra de ambulâncias em nome de uma entidade do Rio de Janeiro.

A verba não foi liberada pelo Ministério da Saúde, mas tinha destino certo no esquema das sanguessugas. A omissão de Suassuna nesse episódio pode custar-lhe o mandato. "Não estamos aqui só para saber se o senhor recebeu dinheiro ou não, mas também o que o senhor fez para preservar a instituição", disse Péres a Suassuna, ainda no depoimento, em referência ao Congresso Nacional.

O pemedebista afirmou que a falsificação foi feita por duas funcionárias de seu gabinete, a pedido de Marcelo. "Elas fizeram de boa-fé, porque o Marcelo lhes disse que eu perderia as emendas se não entregasse o ofício rapidamente", afirmou Suassuna. Uma das servidoras continua trabalhando no gabinete do senador.

O depoimento foi marcado por uma defesa firme de um emocionado Suassuna. O senador chorou mais de uma vez. Ele só mudou o tom ao revelar que pretende representar contra o presidente da CPI das Sanguessugas, Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ), no Conselho de Ética da Câmara. Biscaia garante que, em conversa com Suassuna, o senador lhe teria dito que "90% dos parlamentares levam uma beirada das emendas". O senador nega. Diz que Biscaia se irritou com críticas feitas por Suassuna à CPI e resolveu difamá-lo. Ao final do depoimento, o senador disse: "Eu não tenho culpa. Sou inteiramente inocente. Pode até ter político ladrão, mas eu não sou!", bradou.

Depois de Suassuna, o conselho fez uma acareação entre Luiz Antônio Vedoin, dono da Planam, e o genro da senadora Serys Slhessarenko (PT-MT), Paulo Roberto Ribeiro, acusado de receber propina do esquema das sanguessugas. Vedoin diz que lhe pagou propina. Ribeiro nega.