Título: Cristovam vê crime hediondo na corrupção
Autor: Vilella, Janaina
Fonte: Valor Econômico, 13/09/2006, Política, p. A7

O candidato do PDT à Presidência da República, Cristovam Buarque, lançou ontem, no Rio, a 17 dias da eleição, o seu programa de governo. No documento, intitulado "Como Fazer! - A Revolução pela Educação", o candidato apresenta uma reforma política radical e estabelece ações a serem implementadas pelo próximo presidente para que, em 2022, o país "seja mais justo e democrático".

Uma reforma política, na avaliação de Cristovam, passa pelo fim da reeleição para o Executivo, fidelidade partidária e financiamento público de campanha. O candidato inova ao propor a criação do que chamou de "deputado nacional", eleito com votos de eleitores de todo o país. Segundo o candidato, 10% das cadeiras da Câmara dos Deputados seriam reservadas para parlamentares eleitos nacionalmente.

Caso seja eleito, Cristovam pretende transformar a corrupção em crime hediondo. Propõe ainda a criação de uma diretoria na Política Federal exclusiva para combater fraudes e a sonegação, assim como pretende substituir em todos os documentos oficiais as expressões "desvio de recursos públicos" por "roubo de recursos públicos", "corrupto" por "ladrão" e "deputado" por "representante do eleitor".

No texto, de 152 páginas, o senador também ressalta a importância do investimento na educação como vetor para o crescimento sustentado do país. Cristovam dividiu o programa de governo em cinco eixos para mudar o país: Educação e Ciência e Tecnologia; Instituições, Inclusão Social, Crescimento e Sustentabilidade e Soberania Nacional.

Pelas contas do candidato, o não investimento em educação poderia gerar um custo anual ao país de US$ 2 trilhões. O senador compara o Brasil à Coréia para justificar o cálculo. "Nos anos 60, a Coréia tinha renda per capita da ordem de US$ 900 e o Brasil, de US$ 1,8 mil, o dobro. Neste começo do século 21, a renda do Brasil encontra-se por volta dos US$ 8 mil (corrigida pela paridade de compra) e a da Coréia é que se tornou o dobro da nossa", diz o texto. "Isso acontece, principalmente porque os coreanos fizeram uma revolução na educação, e nós não. Caso a tivéssemos feito, poderíamos ter hoje uma renda per capita em torno de US$ 32 mil. Nosso PIB seria de quase US$ 3 trilhões, em vez de menos de US$ 1 trilhão".

O senador defendeu um aporte de R$ 7 bilhões para a educação no país - o equivalente a 0,3% da renda nacional de R$ 2 trilhões. "O Brasil tem dois muros: o que separa o pobre dos ricos e o que separa o Brasil dos países avançados. Só existe uma maneira hoje de derrubar esses dois muros, investir em educação", disse Cristovam durante o lançamento do programa.

Para promover uma revolução na educação de base, o candidato propõe, entre outras medidas, a transformação do Ministério da Educação em Ministério da Educação Básica e o aumento do salário médio dos professores, que dobraria em quatro anos. A substituição do tradicional vestibular pelo Programa de Avaliação Seriada (PAS), por meio de exames realizados ao longo dos três anos do ensino médio, também garantiriam, na avaliação do candidato, uma ampliação do acesso dos jovens ao ensino superior.

Ao término de sua apresentação, o candidato dedicou o programa de governo ao jovens brasileiros e usou a imagem de um muro pichado para conclamá-los. "Temos de fazer os nossos jovens voltarem a pichar os muros do Brasil", afirmou Cristovam. Na contracapa do documento, estão pichadas num muro palavras de ordem que marcaram a história política do país: "O Petróleo é Nosso" (1950), "Viva o Socialismo" (1961), "Abaixo a Ditadura" (1968), "Diretas Já" (1984), "Impeachment" (1992) e "Educação Já" (2006).