Título: Europa pressiona gregos às vésperas das eleições
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Fonte: Valor Econômico, 14/06/2012, Internacional, p. A11

Líderes tentam pressionar os eleitores gregos às vésperas do pleito de domingo, quando o país voltará às urnas para escolher o novo Parlamento. A nova votação ocorre um mês e meio após a eleição de 6 de maio, que resultou no fracasso de todas as tentativas de formar uma coalizão de governo, dado o equilíbrio entre os partidos e o crescimento de legendas radicais à esquerda e à direita.

Nos últimos dois dias, os presidentes da França, François Hollande, e da Comissão Europeia, José Barroso, e a premiê alemã Angela Merkel fizeram alertas parecidos sobre o que implicará o resultado da eleição de domingo. Para eles, os gregos estão diante de duas alternativas: cumprir os compromissos assumidos com a União Europeia e o Fundo Monetário Internacional (FMI) - e manter as duras medidas de austeridade adotadas em troca de um socorro financeiro de € 24 bilhões - ou sair da moeda comum e, até mesmo, arriscar uma exclusão do bloco.

A poucos dias das eleições, está proibida a divulgação de pesquisas de intenção de voto. A última delas, em 1º de julho, apontou equilíbrio entre o Nova Democracia (centro-direita), que defende o socorro europeu, e o Syriza (esquerda), que pede uma renegociação das medidas de austeridades exigidas pelos parceiros, mas diz querer manter-se na zona do euro. Nenhum dos dois teria votos suficientes para formar um governo sozinho, segundo todas as pesquisas. E há dúvidas sobre se o Nova Democracia e o Pasok (socialista), ambos favoráveis ao socorro, terão assentos suficientes para formar uma coalizão de governo.

O presidente francês, eleito no mesmo dia da fracassada votação grega em maio, disse ontem que sua ascensão ao poder colocou o crescimento na agenda europeia. Isso pode beneficiar a Grécia, afirmou, desde que o país mantenha seus compromissos. "Se ficar a impressão de que os gregos querem se distanciar dos compromissos que assumiram e abandonar qualquer perspectiva de recuperação, haverá países na zona do euro que preferirão eliminar a presença da Grécia [na moeda comum]", disse ontem Hollande, que foi eleito no mesmo dia da fracassada votação grega. "Eu quero que a Grécia permaneça na zona do euro, mas os gregos precisam entender que isso requer uma relação de confiança."

Falando ontem ao Parlamento Europeu, na cidade francesa de Estrasburgo, Barroso também condicionou a presença da Grécia na moeda comum à continuidade das medidas de austeridade. "Eu acredito que a Grécia deve permanecer na zona do euro, assumindo que o país respeitará seus compromissos", disse.

A Grécia, que atravessa o quinto ano seguido de recessão, diminuiu seu déficit orçamentário de mais de 15% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2009 para cerca de 9% no ano passado, às custas de um imenso corte de gastos que sufucou ainda mais o crescimento econômico e provocou uma série de protestos no país.

Anteontem, Angela Merkel também deu seu recado aos gregos. Segundo ela, "a questão se a Grécia vai implementar seu programa [de austeridade] e se as obrigações serão mantidas no futuro" transcende a crise da dívida grega, mas diz respeito a toda a Europa.

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