Título: Petrobras deve liderar exportações de álcool do país
Autor: Scaramuzzo, Mônica e Góes, Francisco
Fonte: Valor Econômico, 13/09/2006, Empresas, p. B14

A Petrobras deve se consolidar nesta safra, a 2006/07, como maior exportadora individual de álcool do Brasil, atendendo apenas dois destinos - Venezuela e Nigéria, mercados ainda com pouca tradição na importação de álcool. A expectativa é de que a estatal exporte cerca de 250 milhões de litros. Em 2005/06, a empresa exportou apenas 40 milhões de litros.

Se confirmadas as estimativas, a Petrobras deve ultrapassar o grupo Cosan, que projeta exportar neste ano cerca de 20% de sua produção, ou cerca de 240 milhões de litros do combustível. A exportação brasileira de álcool para 2006/07 está estimada em 3,5 bilhões de litros.

O levantamento feito pelo Valor considera os embarques feitos por grupos econômicos individuais. Hoje os grandes volumes de exportação são feitos pelas tradings, diz Antonio de Padua Rodrigues, diretor técnico da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica). Entre as principais exportadoras, neste caso, estão a Vertical, Coimex, Alcotra, Louis Dreyfus, Crystalsev e Copersucar.

Segundo Paulo Roberto da Costa, diretor de abastecimento da Petrobras, a empresa deve exportar 250 milhões de litros nesta safra em contratos "spot" (à vista). Para 2007/08, o volume a ser exportado depende do fechamento de contratos com a estatal venezuelana de petróleo PDVSA e com a Nigéria.

Uma das estratégias da Petrobras no álcool é migrar as vendas do "spot" para contratos de longo prazo. "Pretendemos aumentar a participação da Petrobras, sobretudo em mercados novos, como o Japão", afirma Costa. Ele lembra que, em 2005, a Petrobras criou uma empresa no Japão para avaliar aquele mercado.

A estatal tem um escritório naquele país para viabilizar as exportações quando o governo japonês definir a mistura do álcool na gasolina. O potencial de embarque para o mercado japonês varia de 1,8 bilhão de litros a 6 bilhões de litros, dependendo do teor de mistura de álcool que será adotado pelo Japão.

Segundo Costa, o aumento da participação da Petrobras no mercado de álcool busca alavancar o crescimento sucroalcooleiro. "Temos sido procurados por grupos empresariais interessados no plantio de novas áreas e na criação de usinas no Sudeste, Centro-Oeste e Norte. A Petrobras entra para ser novo player neste mercado e não para ter o domínio e monopólio."

Ele descarta, contudo, que a empresa esteja discutindo participação societária em novas usinas. "Discutimos a compra do álcool em contratos de longo prazo que viabilizem a exportação", afirma. Costa não informa com quantas usinas a Petrobras negocia a compra de álcool, mas afirma que são projetos de grande capacidade instalada. O plano da estatal é usar sua expertise de logística, com dutos, terminais e navios, e sua experiência em trading, para ampliar sua fatia na comercialização do álcool.

Nos últimos meses, a estatal tem anunciado, por meio de sua subsidiária Transpetro, investimentos em torno de US$ 600 milhões para a instalação de alcodutos, com objetivo de escoar o produto das regiões produtoras do país até os portos. Na prática, contudo, poucos projetos avançaram.

Costa reconhece que o projeto do corredor de exportação do álcool depende de uma estratégia casada entre a compra e a venda do produto. "Não vamos construir o alcoduto antes de fechar a parte de compra e venda. Não há possibilidade de fazer nenhuma destas etapas separadas".

O diretor de abastecimento da Petrobras avalia que o mercado mundial de etanol vai crescer mais do que o Brasil tem condições de ofertar. "O mundo está ávido por aumento da participação dos biocombustíveis em suas matrizes energéticas. Os EUA e Europa querem aumentar o percentual de álcool adicionado à gasolina. O Japão quer começar a fazê-lo. O mercado futuro de álcool é tão promissor que vai ter espaço para todos. Não queremos o monopólio do álcool, e não é a Petrobras que vai ser dominante no mercado", diz.

Independentemente do projeto dos dutos da Petrobras, os empresários do setor e o governo do Estado de São Paulo estão dispostos a fazer investimentos para colocar em prática a instalação de dutos no Estado. A Unica encomendou um estudo para analisar a viabilidade econômica, ambiental e de infra-estrutura desse projeto.