Título: Grupo Tata inclui o Brasil em seu mapa
Autor: Balarin, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 15/09/2006, EU & Fim de Semana, p. 4

No segundo semestre de 2002, quando iniciou suas operações no Brasil, a Tata Consultancy Services (TCS) dava os primeiros passos rumo a um ambicioso plano: ter participação significativa no maior mercado de tecnologia da informação (TI) da América Latina. Não seria fácil. Os principais rivais já estavam instalados no Brasil, mas o know-how da TCS e suas parcerias com grandes multinacionais mundo afora eram importantes cartões de visita. Passados quatro anos, a empresa indiana pode dizer que já estabeleceu presença expressiva no mercado brasileiro.

Hoje, a TCS conta com 1100 funcionários. A meta é terminar o ano fiscal (indiano), que se encerra em 30 de março de 2007, com mais 700 empregados. O crescimento não deve parar aí. "Em dois ou três anos, planejamos ter 4 mil funcionários", afirma o diretor de recursos humanos da TCS Brasil, Joaquim Rocha. A TCS Brasil é a subsidiária que mais cresce no mundo. As grandes possibilidades de crescimento da terceirização de serviços na indústria financeira, telecomunicações e indústria puxam as projeções otimistas que animam a empresa. Consultores estimam que o mercado de terceirização pode crescer até 10%, anualmente, até o fim desta década.

Detentora de um faturamento global de US$ 3 bilhões, a TCS poderá ser apenas o primeiro passo do grupo Tata no Brasil e serve como um exemplo de como os indianos conseguem conquistar mercado em pouco tempo. Com 93 empresas, mais de 200 mil funcionários e atuando em diferentes segmentos (energia, telecomunicações, automóveis, indústria alimentícia, engenharia), o grupo Tata é um dos maiores da Índia, com faturamento de US$ 21,9 bilhões, equivalentes a 2,7% do PIB indiano.

Com operação em mais de 40 países dos seis continentes, o grupo indiano tem no exterior uma de suas principais fontes de expansão, sempre com base em dois preceitos: produção de bens ou serviços competitivos de classe mundial e seleção de mercados em que a empresa possa crescer de forma sustentada. Um dos interesses da Tata no Brasil estaria no setor automobilístico. Outra área sob mira seria a de hotéis.

Representantes da Tata Motors - braço para a área automobilística da holding - têm vindo freqüentemente ao Brasil, nos últimos meses, mais especificamente a Minas Gerais, onde conversaram com empresas de autopeças. A prefeitura de Betim (MG) já se dispôs a colocar um terreno à disposição dos indianos, para a eventual construção de uma fábrica, que poderia representar investimento de US$ 1 bilhão até o fim da década. Um dos que acreditam no real interesse dos indianos é o cônsul geral da Índia em Minas Gerais, Élson de Barros Gomes Júnior.

Em Brasília, nas conversas entre diplomatas brasileiros e indianos para a expansão das relações comerciais entre os dois países, um dos assuntos em pauta é a ampliação de benefícios tarifários ao setor automobilístico. Já existem descontos de tarifas em uma lista de produtos, mas autopeças e automóveis ainda não estão contemplados. Hoje, a empresa tem negócios com a África do Sul e exporta para a Europa.

Um dos principais interesses do presidente da holding Tata, Ratan Tata, é avançar no mercado de automóveis mais baratos, no qual haveria possibilidades de expansão. Engenheiros da empresa trabalham em um projeto de veículo popular cujo preço ficaria em torno de US$ 2 mil. "Mercados emergentes são um foco potencial para projetos como esse e, na América Latina, o Brasil é o maior mercado", diz um consultor do setor automobilístico.

O investimento poderá não ser a única investida da Tata Motors na América Latina. Na primeira semana de agosto, a empresa anunciou que está estudando uma associação com a filial da Fiat na Argentina. A intenção seria de fabricação de utilitários e picapes no país vizinho. Após ter chegado ao fundo do poço em 2002, com a produção de 160 mil unidades, a expectativa da indústria argentina é de chegar a 400 mil veículos neste ano. Além do mercado interno, a fábrica ampliada poderia atender a pedidos do mercado externo.

Em meio aos rumores de que investirá no país, a Tata Motors mostrou como iniciativa concreta a assinatura, em maio, de um acordo com a brasileira Marcopolo. Juntas, as empresas aplicarão cerca de US$ 40 milhões em uma unidade na Índia, com capacidade de produzir 7 mil ônibus por ano. A joint-venture terá 51% de participação dos indianos e 49% nas mãos da Marcopolo, atraída para o negócio pelo fato de que a Índia começa a utilizar mais o transporte rodoviário, com a realização de grandes obras viárias. Na parceria, a Tata fabricará os chassis e a Marcopolo entrará com a carroceria e a tecnologia.