Título: Um debate sem farpas
Autor: Silveira, Igor
Fonte: Correio Braziliense, 30/10/2010, Política, p. 6

Último confronto na TV entre Dilma e Serra foi pautado pelo tom morno, em que presidenciáveis se limitaram a reapresentar propostas para o país

O último debate entre os candidatos à Presidência da República, Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PT), teve um clima morno, diferentemente dos últimos encontros. A fórmula proposta e apresentada ontem pela Rede Globo ¿ que consistia em perguntas feitas somente por eleitores indecisos, selecionados pelo Ibope ¿ impediu o confronto direto. A única oportunidade que um presidenciável tinha para interpelar o outro sobre o assunto perguntado era no momento da réplica. Dessa maneira, os temas espinhosos que foram protagonistas nos embates anteriores passaram praticamente despercebidos, com exceção de um ou outro momento, quando citavam casos que podiam constranger o adversário.

Em pé e andando de um lado para o outro enquanto o concorrente respondia às perguntas, os candidatos falavam sobre pontos específicos levantados pelos participantes na plateia. Com quase 20 minutos de antecedência ¿ de acordo com a legislação eleitoral, o debate teria que acabar antes da meia-noite ¿, Dilma e Serra foram recebidos com aplausos pelo público e falaram, em um primeiro momento, sobre propostas para o funcionalismo público. No segundo tema proposto, a agricultura, a petista e o tucano ainda não tinham se referido um ao outro.

Foi somente na terceira pergunta, feita por um advogado de Brasília, que a temperatura do debate ameaçou subir. Quando o eleitor quis saber sobre as propostas relacionadas ao combate à corrupção, Dilma e Serra tentaram, sem sucesso, elevar o tom das repostas. Primeiro, Serra alfinetou a concorrente ao afirmar que o presidente da República tem de começar dando o exemplo, escolhendo bem a equipe de governo, numa referência indireta à ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra.

A resposta da petista veio em tom de provocação. ¿É fundamental que, na Procuradoria-Geral da República, não haja a figura do `engavetador-geral da República¿¿, afirmou Dilma, referindo-se a Geraldo Brindeiro, procurador-geral na época do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que ganhou este apelido da oposição pela quantidade de denúncias arquivadas.

Serra resolveu dar o troco e emendou: ¿Tem de ser implacável com quem comete a corrupção e não passar a mão na cabeça do envolvido. Há casos insepultos até hoje. Lembra dos aloprados?¿, perguntou, lembrando a prisão de pessoas ligadas ao PT que foram presas, às vésperas das eleições presidenciais de 2006, tentando comprar um dossiê contra o então candidato ao governo de São Paulo, o próprio Serra.

No segundo bloco, a voz de Dilma ameaçou sumir e a presidenciável apresentou um pouco de rouquidão quando respondia a uma pergunta sobre impostos, mas conseguiu seguir sem maiores problemas até o fim do debate.

Comparações O programa continuou com comparações entre as gestões dos tucanos e dos petistas, mas sem grandes novidades depois de quase quatro meses de campanha. Dilma e Serra apresentaram propostas já divulgadas durante o horário eleitoral gratuito e em debates anteriores, respondendo ainda a perguntas sobre segurança pública, economia e meio ambiente. Nem nas considerações finais os dois candidatos partiram para o embate direto, encerrando, de maneira fria, o 10º debate entre os presidenciáveis nestas eleições.