Título: Comissão da Verdade avaliza convocação de agentes da ditadura
Autor: Lima , Vandson
Fonte: Valor Econômico, 12/06/2012, Política, p. A9

As comissões da verdade instaladas em Estados e municípios terão aval da comissão nacional para convocar agentes da ditadura que supostamente participaram de atos de violação aos direitos humanos. Cinco dos sete integrantes da Comissão Nacional da Verdade estiveram ontem em São Paulo, na representação da Presidência da República, e garantiram a parlamentares que integram as comissões do Estado e da capital paulista que convocações futuras que exijam força de lei serão respaldadas pelo órgão nacional, que detém esse poder.

"Isso foi muito importante para nós, porque fará as comissões regionais funcionarem integradas à nacional, inclusive com aval para tomar depoimentos e analisar documentos", afirmou o deputado estadual Adriano Diogo (PT-SP), que preside a sessão estadual.

Segundo o ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Gilson Dipp, escolhido para ser o primeiro coordenador da Comissão Nacional, um assessor do grupo será destacado para manter contato permanente. "Não haverá sobreposição de trabalho. Se a comissão estadual já tiver ouvido alguém, ou tiver analisado algum documento, isso não será feito novamente. As comissões nos entregarão os trabalhos já sistematizados e analisados".

Dipp demonstrou simpatia por iniciativas independentes que possam colaborar com os trabalhos, como a criação de comissões dentro de universidades públicas. A Universidade de São Paulo (USP) lança hoje um abaixo-assinado pela instalação de uma comissão da verdade própria, que pretende investigar cassações políticas e aposentadorias compulsórias indicadas pela reitoria da época. O ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso foi um dos professores cassados na USP em 1969. "Podemos também ter esse complemento das entidades universitárias e instituições do poder público", avaliou Dipp.

O ministro ressaltou que o órgão nacional, em que pese o tempo exíguo para a conclusão dos trabalhos, terá todas as condições de cumprir seu objetivo no prazo. "O prazo de dois anos é curto, mas quero dizer que nenhuma comissão da verdade existente na América Latina teve, por força de lei, tantos poderes como a brasileira. Ela terá aquilo que necessita para atingir seus objetivos de repor a verdade histórica", avaliou.

Os comissionados já estão instalados no 2º andar do Centro Cultural de Brasília (CCB) e 14 assessores foram nomeados. "Mas podemos requisitar complementarmente qualquer servidor público para determinadas tarefas. Perícia técnica, historiadores, arquivistas, tudo à medida que o trabalho avance".