Título: BB avalia participação no capital do Bancoob
Autor: Zanatta, Mauro
Fonte: Valor Econômico, 15/09/2006, Finanças, p. C5

O Banco do Brasil avalia, de forma reservada, a possibilidade futura de adquirir uma participação acionária no Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob), principal instituição financeira do segmento no país.

De olho no rápido crescimento do cooperativismo de crédito, o BB pode utilizar a rede do Bancoob como um canal de distribuição complementar de seus produtos e serviços para regiões onde não atua diretamente. Dono da sétima maior rede de atendimento do país, com 1,5 mil pontos em 22 Estados, e à frente de instituições tradicionais como o Unibanco, o Bancoob tem uma carteira de 1,2 milhão de clientes espalhados por 792 cooperativas de crédito singulares.

Na verdade, a hipótese de participação acionária do BB é estudada desde antes da fundação do Bancoob, em 1997. Na época, cogitava-se essa alternativa para fortalecer a estrutura do cooperativismo de crédito no país.

As duas instituições firmaram recentemente uma parceria operacional nas áreas de cobrança, fundo de investimentos em direitos creditórios (FIDC) e fundos imobiliários, cujos negócios potenciais somam R$ 230 milhões. E avaliam a ampliação da associação para comercializar seguros, títulos de capitalização, previdência privada, consórcios de imóveis, automóveis e máquinas, além do compartilhamento de terminais de auto-atendimento, remessas de recursos do exterior para o Brasil e o acesso direto a recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e do Fundo Constitucional do Centro-Oeste (FCO).

"Estamos num processo de namoro. O BB tem interesse em reforçar sua presença em pequenas localidades e de levar crédito a essas regiões. O Bancoob quer aumentar sua capitalização e o volume de empréstimos", diz João Rabelo, superintendente de Desenvolvimento Corporativo do Bancoob. Controlado por 14 cooperativas centrais de crédito, o Bancoob figura na 33º posição do ranking de ativos do Banco Central, com R$ 2,8 bilhões. O sistema Sicoob tem R$ 15 bilhões. De Buenos Aires, onde participa de reuniões de trabalho, o presidente do Bancoob, Antonio de Azevedo Bonfim, informou que as negociações estão "congeladas" no momento e ainda dependem de uma questão burocrática do próprio Bancoob. Ele se refere à necessidade de aprovação, pelo Banco Central, de um acordo de acionistas para definir os controladores do banco. Só depois disso, afirmou, será possível eleger um Conselho de Administração para avaliar uma proposta do BB.

Cauteloso, o BB admite as conversas, mas informa que nada está decidido. "Antes, enxergava-se os bancos cooperativos unicamente como concorrentes. Agora, temos uma aproximação em áreas complementares. Mas uma participação seria algo mais para o futuro", afirma o vice-presidente de Agronegócios do BB, Ricardo Conceição, responsável pela aproximação entre as instituições. "Se for necessário, a gente faz. Mas não está no horizonte de curto prazo. E também nem foi levado ao conselho do banco". Procurada, a área de Varejo e Distribuição do BB não se pronunciou sobre o assunto.

Interessado no fortalecimento da estrutura patrimonial das cooperativas de crédito, o presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Márcio Lopes de Freitas, diz que uma "aliança" entre BB e Bancoob daria um "bom casamento", já que auxiliaria nos planos do governo federal de ampliar a atuação no microcrédito em pequenas localidades do interior do país. "Nós temos a rede e os BB precisa buscar espaço no microcrédito", avalia. Uma participação acionária do BB no Bancoob reforçaria a capitalização das cooperativas do segmento. Recentemente, diante da antiga demanda, o governo criou linha de crédito de R$ 1 bilhão para financiar a capitalização via integralização das cotas-parte (ações) nas cooperativas singulares de crédito. "Isso nos permitirá dobrar o patrimônio das cooperativas de crédito em cinco anos", diz. Os recursos da linha vêm do BNDES e deverão ser pagos em 72 meses, com um ano de carência.