Título: Desaceleração dos EUA será compensada por outras regiões
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Fonte: Valor Econômico, 15/09/2006, Finanças, p. C10

O Fundo Monetário Internacional acha que os efeitos da desaceleração da atividade econômica nos Estados Unidos serão compensados pela manutenção de um ritmo acelerado em outras regiões nos próximos meses, mas seus economistas estão preocupados com as incertezas que envolvem essa situação.

Ao apresentar a nova edição do relatório semestral do Fundo sobre as perspectivas para a economia mundial, o diretor do departamento de pesquisas do FMI, Raghuram Rajan, apontou vários fatores que podem desarrumar o cenário otimista descrito pelo documento do Fundo.

A primeira ameaça é a de uma desaceleração maior que a prevista nos Estados Unidos, resultado do impacto que o fim da bolha do mercado imobiliário terá sobre o consumo e a atividade econômica. Na avaliação do Fundo, ainda será preciso esperar algum tempo para ter uma idéia exata desse impacto.

Os preços dos imóveis pararam de subir, muitas casas à venda não encontram compradores e o ritmo da construção de novas unidades diminuiu. Mas para o FMI ainda são tênues os sinais de que isso afetou de forma significativa o ânimo dos consumidores, que nos últimos tempos aproveitaram a extraordinária valorização dos imóveis para se endividar e ir às compras.

Outro fator de preocupação é a persistência de pressões inflacionárias como a alta do petróleo e dos preços de várias matérias-primas, que podem obrigar os países avançados a aumentar suas taxas de juros, o que acentuaria a tendência de desaceleração da atividade econômica.

O Federal Reserve, o banco central dos EUA, decidiu em agosto interromper um longo ciclo de elevação das taxas de juros americanas que havia iniciado há dois anos. Rajan considerou a decisão acertada, mas alertou que o Fed poderá ser forçado a agir novamente em breve se a inflação americana não ceder.

"O Fed poderá ter que aumentar as taxas de juros ainda mais e por mais tempo", disse o economista. "O Fed pode logo se ver preso a um dilema e a política monetária precisará ser manejada habilmente para que a economia não vá para o vinagre."

Um terceiro risco é a possibilidade de que os desequilíbrios existentes na economia mundial, como o elevado déficit nas contas externas dos EUA e o excesso de poupança disponível nos países asiáticos, sofram uma correção abrupta. "Não é um evento de grande probabilidade, mas será um evento muito custoso se ocorrer", afirmou Rajan.

O Fundo também expressou preocupação com a possibilidade de que uma onda protecionista crie barreiras para o comércio global, travando um dos principais motores da expansão da economia mundial nos últimos anos e contribuindo para esfriar ainda mais a atividade econômica daqui para frente. "Em nome de vantagens nacionais os políticos estão mais uma vez assegurando desvantagens coletivas", disse Rajan, mencionando como sinais desse fenômeno o colapso das negociações da Rodada Doha de liberalização comercial e as reações despertadas nos EUA e na Europa por tentativas recentes de aquisição de empresas nacionais por grupos estrangeiros. (RB)