Título: Telecom Italia deve anunciar detalhes sobre venda da TIM
Autor: Magalhães, Heloisa e Moreira, Talita
Fonte: Valor Econômico, 15/09/2006, Empresas, p. B3

A Telecom Italia adotará, nos próximos dias, uma postura cada vez mais clara para assumir que a TIM Brasil, operadora de telefonia móvel, está à venda.

Até agora, o grupo italiano vem sendo reticente quanto à possibilidade de vender a subsidiária brasileira. O presidente do conselho de administração, Marco Tronchetti Provera, admitiu apenas que analisaria ofertas que eventualmente fossem feitas pela empresa.

Porém, o controlador da Telecom Italia tem dado indicações de que revelará abertamente o interesse em se desfazer desses ativos. Ele tem sofrido fortes pressões políticas e o primeiro-ministro italiano, Romano Prodi, revelou anteontem que em julho Provera afirmou que venderia a TIM Brasil e que poderia levantar entre 7 bilhões de euros e 9 bilhões de euros com a operação.

Uma fonte ligada ao grupo italiano disse ao Valor que os dois maiores interessados em adquirir a subsidiária brasileira da TIM seriam a América Móvil, controladora da Claro, e a Brasil Telecom (BrT), que atualmente tem a Telecom Italia entre seus acionistas. Nesta semana, o jornal italiano "La Repubblica" destacou que a espanhola Telefónica estaria negociando a aquisição da empresa.

A BrT nega que esteja interessada na TIM. No entanto, fontes ligadas aos controladores da operadora (fundos de pensão e Citigroup) afirmaram que há alguns meses levaram ao grupo italiano uma proposta que previa a incorporação da TIM pela BrT e uma subseqüente pulverização do capital da operadora, num formato semelhante ao que a Telemar pretende fazer.

A avaliação era de que esse seria um caminho para resolver o arrastado imbróglio societário na Brasil Telecom, que envolve fundos de pensão, Citigroup, Opportunity e Telecom Italia. Provera tem afirmado que pretende vender sua participação na BrT e que já contratou bancos para cuidar disso.

No entanto, segundo dois interlocutores ouvidos pelo Valor, a Telecom Italia rejeitou a idéia da incorporação da TIM, com a percepção de que a operadora de telefonia móvel - a segunda maior do mercado brasileiro - será mais bem avaliada se vendida separadamente.

Uma fonte que acompanha de perto o assunto disse que a Telecom Italia alegou que não poderia aceitar a incorporação porque enfrentaria a resistência dos minoritários na Europa. "Mas depois da teleconferência com analistas nesta semana (quando a Telecom Italia anunciou detalhes de sua reestruturação) ficou claro por que a empresa não aceitou a proposta da BrT", observou.

A Anatel deu prazo até o fim de outubro para que a Telecom Italia resolva a sobreposição de licenças de telefonia móvel e longa distância que tem com a Brasil Telecom. A venda da TIM seria uma forma de solucionar isso.

No entanto, como não há garantias de que o negócio sairá em pouco tempo, a Telecom Italia está se preparando para depositar num agente fiduciário (trust) as ações que detém da BrT. Essa medida já foi informalmente discutida com o órgão regulador. Com sua participação segregada num fundo, o grupo europeu ficaria fora da operadora até que se chegasse a uma saída definitiva - por, exemplo, encontrar um comprador para esses papéis. "A venda (da fatia da Telecom Italia na BrT) é complicada porque não é uma participação de controle", destacou um interlocutor que faz parte das negociações.

Até agora, também, nenhuma empresa assumiu abertamente o interesse na TIM.

Com R$ 3 bilhões em caixa, dificilmente a Brasil Telecom teria condições de, sozinha, comprar a TIM, a não ser que buscasse outros sócios - como um aporte adicional dos fundos de pensão que já fazem parte do bloco de controle da operadora, cuja área de atuação se estende do Norte ao Centro-Sul do país.

O diretor de governança corporativa da BrT, Fábio Moser, deu entrevista à agência Bloomberg na terça-feira dizendo que a operadora poderia ter interesse nos ativos da TIM. No entanto, a assessoria de imprensa da Brasil Telecom recuou posteriormente, alegando que houve um mal-entendido e que o executivo havia falado sobre o assunto apenas "em tese".

O presidente do conselho de administração da Telefónica, Cesar Alierta, negou que esteja interessado na compra da TIM e disse que, na verdade, o objetivo da companhia espanhola é adquirir os 50% que a Portugal Telecom detém no bloco de controle da Vivo. A Telefónica já detém a outra metade.

Por sua vez, o vice-presidente da Portugal Telecom Zeinal Bava também declarou que a companhia não pretende adquirir ativos da Telecom Italia. Ele afirmou que a presença "no Brasil e na África é fundamental para o crescimento e a diversificação do portfólio" da operadora e destacou que a Portugal Telecom tem "boa relação" com a Telefónica e acredita no potencial de valorização da Vivo.