Título: Dnit monta estratégia, caso empresa deixe obras
Autor: Borges , André
Fonte: Valor Econômico, 04/06/2012, Política, p. A11

O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) já tem um plano de emergência pronto caso a Delta Construções, envolvida nos escândalos de corrupção investigados pela CPI do Cachoeira, seja varrida do mapa das obras federais. Segundo Jorge Fraxe, diretor-geral do Dnit, já foi feito um levantamento detalhado sobre as execuções físicas e financeiras das obras que a autarquia mantém com a Delta. "Estamos prontos para qualquer hipótese. A decisão final do que fazer caberá à Controladoria-Geral da União e à presidenta Dilma [Rousseff]. Nós vamos cumprir o que for decidido", diz Fraxe.

A Delta atua, primordialmente, em contratos de manutenção de rodovias com o Dnit, e não naqueles voltados à duplicação ou construção de novas estradas. "Nessa área de manutenção, ela é disparada a campeã desses contratos e até agora ela está cumprindo tudo o que se exige. Vamos aguardar os desdobramentos da investigação", comenta o general.

A situação já crítica da Delta poderá ficar insustentável, depois que a J&F, holding que controla a empresa de alimentos JBS, desistiu na sexta-feira do contrato para gestão da empreiteira. A companhia avaliava a opção de compra, enquanto a KPMG auditava as contas da Delta. A decisão, segundo a J&F, foi motivada pelo mergulho da companhia na CPI mista. Na semana passada, os parlamentares da CPI do Cachoeira, que investiga as relações do empresário com autoridades, aprovaram a quebra do sigilo nacional da Delta. Até então, o alvo da comissão eram os contratos da empresa firmados na região Centro-Oeste.

Pesou ainda na decisão o fato de que a Delta está vendo seus contratos minguarem. Joesley Batista, presidente da J&F, disse que os recursos que a empreiteira recebia por contratos públicos caíram 30% desde que a empresa entrou na mira da Justiça. "A Delta terá que fazer um controle mais rígido de caixa", disse.

O Dnit é o maior cliente dos serviços prestados pela Delta. Atualmente, a construtora tem 99 contratos ativos com a autarquia, envolvendo serviços de duplicação, construção e manutenção de rodovias federais. Juntos, esses contratos somam R$ 2,518 bilhões, dos quais R$ 1,410 já foram efetivamente pagos. Isso significa que ainda há mais de R$ 1 bilhão a receber, caso as obras continuem.

A relação da Delta com o Dnit envolve ainda outros 164 contratos já concluídos e encerrados. Entre 1996 e 2011, o Dnit desembolsou mais R$ 1,593 bilhão para a construtora. Atualmente, há 19 contratos firmados com a empreiteira que estão paralisados. Destes, 16 estariam parados porque estão passando por alterações. Outros três, que tratam de obras de manutenção nas BR-304 e BR-116, no Ceará, estão congelados por conta da Operação Mão Dupla, deflagrada pela Polícia Federal em agosto de 2010, em conjunto com a Controladoria Geral da União. À época, aos menos 27 pessoas ligadas ao Dnit foram detidas. A investigação apontava para um suposto esquema articulado dentro da regional do Dnit no Ceará, para fraudar licitações, superfaturar contratos e desviar verbas.