Título: Arcelor Brasil quer ampliar endividamento para crescer
Autor: Góes, Francisco
Fonte: Valor Econômico, 15/09/2006, Empresas, p. B7
O empréstimo de R$ 719,4 milhões anunciado ontem pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a expansão da Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST) abre uma nova fase na Arcelor Brasil, controladora da siderúrgica capixaba. A holding, que além de CST controla Belgo- Mineira e Vega do Sul, além de Acindar na Argentina, pretende sustentar o seu plano de crescimento no país com uma maior alvancagem financeira.
Os instrumentos a serem utilizados ainda não estão definidos, mas a empresa poderá lançar mão de novos empréstimos com bancos como o BNDES, emitir títulos e fazer operações de pré-pagamentos de exportações. "Estamos preparados para crescer", diz Maurício Lustosa de Castro, diretor de finanças, fusões e aquisições da Arcelor Brasil.
Castro diz que a alavancagem da Arcelor Brasil em relação ao valor de mercado da empresa é hoje de cerca de 9%. A conta considera um valor de mercado de US$ 11,1 bilhões e uma dívida líquida da ordem de US$ 950 milhões. Nos próximos anos, o endividamento poderá evoluir para um percentual entre 20% a 25%, sempre em relação ao valor de mercado da empresa.
Castro diz que uma maior alavancagem permite adequar o custo de capital, garantindo um retorno ideal sobre o investimento. Uma empresa como a Arcelor consegue captar recursos a custos competitivos para investir e, em muitos casos, isso é preferível ao invés de usar recursos dos acionistas. Nos últimos anos, o baixo endividamento das empresas da Arcelor foi resultado de uma forte geração de caixa.
Castro disse que o financiamento aprovado pelo BNDES para a CST terá prazo de pagamento de 11,5 anos. O custo será 90% em reais (TJLP mais 'spread') e 10% com base em uma cesta de moedas. Os recursos do BNDES estão atrelados à construção do terceiro alto-forno da empresa e à expansão da aciária e ao novo lingotamento contínuo de placas da CST. Castro disse que a Arcelor trabalha em outra estrutura de financiamento, sem a participação do BNDES, para o projeto que envolve a construção, em curso, de uma coqueria na CST.
Wagner Bittencourt de Oliveira, diretor das áreas de insumos básicos e infra-estrutura do BNDES, disse que o financiamento é importante porque aumenta a capacidade de produção de aço no país. Ele afirmou que o empréstimo será concedido dentro da linha de concorrência internacional do banco, criada para garantir ao setor de bens de capital condições de financiamento compatíveis com as empresas estrangeiras.
A participação do banco equivale a 28% do investimento total na expansão da CST, que é de R$ 2,57 bilhões. "O percentual é inferior ao que o banco normalmente financia para projetos do setor siderúrgico, que alcança a 50% do investimento total", disse Bittencourt. Neste ano, o BNDES deverá desembolsar R$ 2,2 bilhões para os setores de mineração, siderurgia e metalurgia, bem acima dos R$ 583 milhões liberados para estes setores em 2005.
Maurício de Castro, da Arcelor Brasil, acrescentou que ainda falta negociar com o BNDES um contrato padrão para fechar o empréstimo para a expansão da CST, que irá ampliar a capacidade de produção de aço de 5 milhões para 7,5 milhões de toneladas anuais, a partir do primeiro trimestre de 2007.
A Arcelor Brasil também fará uma concorrência entre bancos para contratar uma fiança bancária que servirá como garantia ao empréstimo do BNDES.
A questão das garantias foi um dos fatores que atrasaram o empréstimo do banco de fomento à siderúrgica. As negociações entre a empresa e o BNDES se estenderam ao longo de 2004 até este ano e demoraram porque a Arcelor tinha dificuldades de apresentar garantias reais ao banco. Se apresentasse tais garantias, a medida teria impacto negativo no crédito do grupo medido por agências de classificação de risco. No exterior, a Arcelor tem grau de investimento. Já a CST tem classificação BBB-, de acordo com a Fitch.
De forma paralela às discussões com o BNDES, a Arcelor estava negociando e fechou, neste ano, a compra do controle da CST, anunciada em 2004 e concluída no ano passado. Este processo teve influência na negociação com o BNDES. Assim, a CST financiou o seu projeto de expansão com fluxo de caixa próprio, o que contribuiu para o baixo endividamento da Arcelor.
No total, a Arcelor Brasil passará a ter empréstimos de cerca de R$ 1,4 bilhão com o BNDES, incluindo o empréstimo para a CST e outros R$ 730 milhões que já foram contratados por outras empresas do grupo com o banco.