Título: Clima tenso e agressões na assembléia
Autor: Olmos, Marli
Fonte: Valor Econômico, 15/09/2006, Empresas, p. B8

Não foi apenas a militância do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que defendia o acordo com a Volkswagen, que se mobilizou para convencer os trabalhadores a aceitar a proposta da empresa. O presidente da montadora no Brasil, Hans-Christian Maergner, também foi à luta. O executivo escreveu uma longa carta e mandou entregá-la em mãos a cada um dos empregados.

"O futuro está em suas mãos", dizia a última linha do texto, assinado também pelo vice-presidente de recursos humanos, Josef-Fidelis Senn. Na carta, Maergner, um alemão que, ao assumir o comando da Volks do Brasil há dois anos e meio, enfrentou a tarefa de resolver o embate trabalhista no ABC, repetiu que a fábrica corria o risco de ser fechada.

O executivo desempenhou, então, o papel de "vendedor" da proposta ao explicar que o pacote oferecido "é bem superior ao que foi proposto no início desse processo". Maergner alertou que não haveria uma nova proposta e prometeu investimentos caso os trabalhadores da base metalúrgica mais mobilizada do país não resistissem ao corte de empregos. "A direção da Volkswagen se vê na obrigação de reafirmar que, no caso de não haver acordo, a fábrica Anchieta não receberá investimentos, o que comprometerá a continuidade das suas operações, colocando em risco o emprego de todos".

Com o recado do presidente em mãos ou no bolso, os trabalhadores foram para a assembléia, uma das mais tensas da história da Volks no ABC. As vais que os sindicalistas receberam deixavam dúvidas quanto à aprovação da proposta da companhia.

A oposição à direção do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC demonstrou força na assembléia. A fábrica da Volks tem um dos principais focos da oposição ao sindicato, que é comandado pela Articulação, corrente da CUT e do PT mais moderada, da qual o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sempre fez parte. Na Volks, de onde sempre sai a chapa de oposição nas eleições sindicais, atua uma corrente da Conlutas, ligada ao PSTU.

Desta vez não foram apenas as tradicionais faixas de protesto da oposição que marcaram a assembléia. Houve sessões de empurra-empurra e princípio de brigas. Diante da situação, os dirigentes sindicais decidiram ser rápidos nos discursos.

O resultado da votação chegou a confundir muita gente. Havia clara resistência ao acordo. Mesmo assim, a maioria aprovou a proposta (segundo o sindicato, 70% dos presentes).

Para evitar mais confrontos, as entrevistas foram transferidas para a sede do sindicato. Os militantes que tentavam proteger o presidente do sindicato, José López Feijóo, afastaram os jornalistas. Alguns repórteres que insistiram em falar com os dirigentes ali mesmo receberam empurrões e a confusão só terminou quando a direção do sindicato deixou a montadora. (MO)