Título: Fábrica da Volks no ABC entra em nova fase
Autor: Olmos, Marli
Fonte: Valor Econômico, 15/09/2006, Empresas, p. B8

Um ajuste que vai durar os próximos 24 meses enxugará as atividades da gigante fábrica da Volkswagen em São Bernardo do Campo, na região do ABC paulista. O número de empregados passará dos mais de 12 mil hoje para cerca de 9 mil e o ritmo de produção diária cairá de 930 para médias entre 600 e 700 veículos. Por meio de um acordo com os trabalhadores que permitirá a redução do nível de emprego, a montadora conseguiu meios para salvar a sua mais antiga e mais ociosa fábrica no Brasil.

O fôlego para manter a instalação em atividade será garantido pela chegada de dois novos modelos de veículos, a partir de 2008. As características dos veículos ainda não estão claras. A montadora tem projetos já prontos para produzir novas famílias de carros pequenos, um estilo semelhante ao da família Gol, que inclui derivados como Parati e Saveiro.

Os planos da nova família já envolvem uma das outras duas fábricas brasileiras da Volks, instalada em Taubaté (SP). É provável, assim, que a unidade de São Bernardo seja envolvida nesse projeto de famílias de veículos.

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, José López Feijóo, fala num investimento que chegaria a R$ 1 bilhão. A empresa não confirma cifras. Explica, por meio de porta-voz, que o acordo firmado com os empregados será submetido agora à matriz da companhia, na Alemanha, para o encaminhamento dos investimentos destinados ao Brasil.

O sindicato conta com a liberação de investimentos em novos projetos de carros para cumprir o acordo que sacrificará o emprego de um total de 3,6 mil funcionários até 2008. Destes, 85% trabalham na área de produção.

O corte de empregos obedecerá um calendário e um programa de incentivos às demissões voluntárias. Feijóo aposta que, em razão dos incentivos financeiros e do número de trabalhadores em véspera de aposentadoria, o número de candidatos à demissão ultrapassará a quantidade de inscrições abertas pela empresa.

-------------------------------------------------------------------------------- O fôlego para manter a unidade em atividade será garantido pela chegada de dois novos modelos de veículos --------------------------------------------------------------------------------

A Volks oferece 1,4 salário por ano de trabalho como forma de estimular o voluntariado. Mas isso só vale para os 1,5 mil primeiros inscritos. Depois disso, os incentivos diminuirão. A segunda rodada de demissões ocorrerá na primeira metade de 2007 e deve envolver 600 postos, segundo o sindicato. A partir daí, serão abertas novas rodadas, com 300 a 600 empregados cada uma.

O programa de cortes obedecerá as necessidades de enxugamento, com cotas para cada seção da fábrica. O número de inscritos ao programa de demissões voluntárias deverá seguir o tamanho da cota de cada departamento. Um candidato à demissão pode trocar o posto com outro que não deseja sair da empresa desde que ambos exerçam a mesma função.

"Não é o melhor acordo, foi o acordo possível", disse ontem Feijóo, depois de uma tensa assembléia que reuniu os empregados durante a troca de turnos. Numa nota, a a montadora alemã afirma que o acordo representa a retomada da rentabilidade da empresa por meio de um processo mais competitivo.

Para Feijóo, este programa de enxugamento é um dos mais longos na história da Volks e do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Segundo ele, a resistência às demissões é que provocou discussão tão longa. "Demel (Herbert Demel, presidente da Volks do Brasil há quatro anos) dizia que em 2001 essa fábrica teria 7 mil empregados. Já estamos em 2006 com mais de 12 mil e chegaremos em 2008 com 9 mil, dois mil a mais do que previa o ex-presidente da companhia", diz o sindicalista.

Foi na época de Demel que a direção mundial da Volks aceitou conceder estabilidade de cinco anos para todos os empregados da fábrica de São Bernardo. É por isso que os primeiros demitidos só sairão a partir do dia 21 de novembro, quando se encerra o contrato de estabilidade.

Os empregados de São José dos Pinhais, cidade paranaense onde a Volks construiu uma fábrica moderna com os incentivos do regime automotivo, vão pegar carona no acordo referendado ontem no ABC. Para começar a produzir os novos carros no ABC, a Volks precisa abrir espaço em uma das linhas existentes. A escolhida foi a do modelo Fox destinado à exportação para a Europa. Como a unidade do Paraná também produz Fox é para lá que a linha do modelo europeu será deslocada. A previsão dos trabalhadores é que essa mudança ocorra em meados do próximo ano. Mas, pouco a pouco, a exportação do Fox para a Europa será suspensa, o que pode resultar em problemas de ociosidade futuros.

A Volkswagen também tem planos para demitir no Paraná. Segundo o projeto original da reestruturação, incluindo as suas três fábricas de carros de passeio - ABC, Paraná e Taubaté - o número de cortes deve chegar próximo de 6 mil pessoas, o que equivale a 35% da força de trabalho da montadora alemã no Brasil.