Título: Para analistas, é prudente manter centro da meta em 4,5% em 2014
Autor: Martins , Arícia
Fonte: Valor Econômico, 21/06/2012, Brasil, p. A2

Mesmo após a surpresa positiva com a evolução dos preços este ano, economistas consultados pelo Valor acham pouco provável que o centro da meta de inflação para 2014 seja reduzida. A expectativa é que o alvo de 4,5%, já definido para 2013, seja mantido para o ano seguinte na próxima semana, quando o Conselho Monetário Nacional (CMN) irá se reunir para ratificar a meta de 2013 e definir a de 2014.

A incerteza gerada pela conjuntura externa, que ajudou a conter os preços este ano, dizem analistas, torna imprudente uma alteração no centro da meta inflacionária agora. Perseguir uma inflação menor também poderia diminuir o espaço para o Banco Central continuar o processo de ajuste das taxas de juros reais a um patamar mais próximo do praticado em outros países, num momento em que a principal preocupação do governo não é o aumento de preços, mas sim a recuperação mais fraca da atividade econômica.

Desde 1999, início da vigência do regime de metas, a inflação ficou no centro do alvo três vezes, duas delas a partir de 2005, quando a referência passou a ser de 4,5%. A incidência de estouros é ainda menor. Em 13 anos, o IPCA superou o teto apenas em 2002, quando ficou em 12,5%. Em 2003 e 2004, no entanto, o indicador oficial também teria subido além do permitido, caso as metas não tivessem sido ajustadas para cima.

"Agora não é hora de criar mais ruído", diz Luiz Roberto Cunha, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio (PUC-RJ). A ordem do dia nos bancos centrais de países desenvolvidos, segundo Cunha, é estimular suas economias por meio de taxas de juros reais negativas. Caso haja uma recuperação nos próximos anos, o saldo para a economia brasileira seria inflacionário e uma meta de inflação menor poderia virar um problema em um país onde o nível de indexação de preços ainda é elevado.

Diante de chances cada vez maiores de crescimento global morno por mais dois anos, o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges, acredita que o impacto do cenário externo vem diminuindo como possível risco para a inflação no médio prazo. Também pesam a favor de preços mais comportados nos próximos anos, segundo ele, as discussões para diminuir custos da energia para a indústria e o processo de revisão tarifária de concessionárias.

Apesar desses fatores de alívio, diz Borges, amarras internas impedem a redução da meta inflacionária até 2015, pelo menos. Para o analista, a principal delas é a regra de indexação do salário mínimo, cujo percentual de reajuste é definido pelo crescimento do PIB de dois anos anteriores e a inflação do ano anterior.

"O salário mínimo representa custos para muitos setores, principalmente para o de serviços, que representa um terço do IPCA". Em um relatório a clientes da consultoria, ele calcula que, caso o ganho no mínimo fosse nulo nos próximos anos, a meta de inflação, para a mesma taxa de desemprego atual, poderia ser reduzida em cerca de um ponto percentual.

O economista-chefe da Votorantim Corretora, Roberto Padovani, avalia que os baixos ganhos de produtividade da economia brasileira são o principal ponto de resistência inflacionária e, consequentemente, obstáculo para a redução de metas. Ele vê a inflação ainda num patamar de 5% nos próximos anos. "Temos caminhado no rumo certo, mas há muitos desafios para aumentar a produtividade. A desindexação vem naturalmente quando a inflação cai."

Devido à dificuldade em mexer no alvo central da meta, ganha espaço entre economistas a avaliação que mudanças no sistema já seriam um avanço. Para Heron do Carmo, da FEA-USP, reduzir a banda de flutuação permitida para o IPCA - dos atuais dois pontos percentuais para 1,5 ponto - seria uma forma de o BC sinalizar ao mercado um compromisso com inflação mais baixa. Ele julga que a inflação ao redor de 5%, observada desde 2006, poderia ser de 3%, nível mais compatível com outros emergentes, caso o grau de indexação da economia fosse menor.

Borges, da LCA, também defende que a banda de oscilação permitida para o IPCA seja diminuída, ainda que gradualmente, e sugere um horizonte maior para o alcance das metas inflacionárias. "Informalmente, sabemos que o Banco Central já está olhando 24 meses à frente. É uma mudança de postura em relação há três anos, e é o que todos os BCs no mundo fazem."