Título: Estudo da Unicamp defende energias alternativas e expõe divisão do governo
Autor: Rittner, Daniel
Fonte: Valor Econômico, 15/09/2006, Brasil, p. A2

Um estudo realizado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) para a organização não-governamental WWF indica que o Brasil pode economizar R$ 33 bilhões até 2020 se adotar um programa de combate ao desperdício de energia elétrica e aumentar para 20% a geração proveniente de fontes alternativas - como biomassa, eólica, solar e pequenas centrais hidrelétricas.

Para viabilizar essa economia, o estudo traça um conjunto de recomendações de políticas públicas em que se destacam a implantação de um plano nacional de eficiência energética, com metas quantificadas, e a segunda fase do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa).

O pano de fundo do estudo é o aquecimento global e o papel representado pelo Brasil nos fóruns internacionais de meio ambiente, como o Acordo de Kyoto. A secretária-geral do WWF-Brasil, Denise Hamú, lembrou que o país começou a "negligenciar" a imagem de um sua matriz energética limpa no primeiro leilão de energia nova, ocorrido em dezembro de 2005, quando 70% da eletricidade vendida provinha de termelétricas movidas a combustíveis fósseis.

A adoção da estratégia desenhada pela Unicamp pode evitar o despejo de 413 milhões de toneladas de gás carbônico na atmosfera entre 2004 e 2020, alega o WWF. Para comparar, o Proálcool evitou a emissão de 403 milhões de toneladas de CO² entre 1975 e 2000. No mercado de carbono, a venda de créditos equivalentes a essa "economia de poluição" pode gerar até R$ 4,5 bilhões, diz a ONG.

Dois cenários, com as mesmas hipóteses de crescimento econômico e de evolução social dos consumidores, foram elaborados no estudo. A diferença é que, enquanto um cenário trabalha com os níveis atuais de desperdício de energia e a atual matriz, o outro considera o incremento na geração por fontes renováveis de eletricidade.

No primeiro cenário, a participação de fontes fósseis aumenta dos atuais 19% para 24%, pressupõe um crescimento anual de consumo de energia de 5% e uma capacidade instalada de 204 mil megawatts (MW) em 2020. No cenário "sustentável", o crescimento do consumo cai para 2% ao ano (devido às medidas de combate a perdas), a participação de fontes fósseis na matriz energética diminui para 14% e a capacidade para atender a demanda é de 126 mil MW.

A diferença equivale a seis hidrelétricas de Itaipu ou a 60 usinas nucleares de Angra 3, compara o WWF. O programa sugerido, contudo, pressupõe investimento total de R$ 19,6 bilhões até 2020 em ações de eficiência energética. O maior investimento seria na substituição de lâmpadas incandescentes por fluorescentes no país, com custo de R$ 3 bilhões espalhados pelos próximos 15 anos, mas com potencial para reduzir o gasto de energia em mais de 27 mil gigawatts-hora (GWh) no período.

A divulgação do estudo expôs as visões divergentes entre o setor elétrico e a área ambiental. O presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, chamou o programa sugerido de "irrealista". "Estudos de cenário não podem ser simples manifestações de desejo", condenou. O secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente, Cláudio Langone, elogiou a iniciativa. "Se pudermos evitar (energia) a carvão e nuclear, evitaremos", disse o secretário, que rebateu críticas do setor elétrico à suposta morosidade dos órgãos ambientais no licenciamento de hidrelétricas. "Não aceitamos ser os bodes expiatórios."