Título: Confiança volta a cair e indica junho fraco
Autor: Machado , Tainara
Fonte: Valor Econômico, 21/06/2012, Brasil, p. A4

Os primeiros dados de atividade da indústria em junho reforçam a percepção de que a economia no segundo trimestre avançou de forma ainda lenta. Duas pesquisas mostraram que a confiança dos empresários do setor recuou neste mês para o menor patamar do ano, em razão da decepção com o resultado dos estímulos já concedidos, segundo economistas. Como ainda em junho não há sinais claros de retomada da atividade, ganha força a avaliação de que será necessário uma forte aceleração do crescimento no segundo semestre para que o país encerre o ano com crescimento de 2%.

De acordo com o resultado preliminar, o Índice de Confiança da Sondagem da Indústria da Fundação Getúlio Vargas (FGV), que vinha mostrando recuperação da confiança do setor desde novembro, ainda que gradual, passou de 103,4 pontos em maio para 102,9 pontos em junho, queda de 0,5% em relação ao resultado final do mês anterior. Se confirmado, este será o primeiro recuo do indicador desde outubro.

Em outro levantamento, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostrou que o Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI) recuou 1,8 ponto entre maio e junho, para 56,1 pontos, menor nível desde dezembro de 2011. O Icei varia de zero a 100 pontos, sendo que valores acima de 50 pontos indicam otimismo no setor.

Aloisio Campelo, coordenador da pesquisa da FGV, destaca que a queda da confiança recuou principalmente por causa da retração do Índice de Expectativas (IE). "Houve recalibragem das expectativas, que parece associada à dificuldade de aceleração da economia", afirma. A prévia da sondagem mostrou que após alta de 1,1% nos últimos dois meses, o IE teve queda de 1,6% em junho ante maio, retornando ao mesmo patamar observado em fevereiro.

Marcelo de Ávila, economista da CNI, avalia que o otimismo registrou aumentos consecutivos no início do ano por causa das medidas do governo para estimular o crescimento do setor, mas agora os empresários avaliam que até o momento, o conjunto de ações não levou a "uma recuperação, de fato, da atividade industrial".

Para Vladimir Caramaschi, economista-chefe do Crédit Agricole, a queda da confiança da indústria pode ser atribuída ao cenário externo, em que a Europa está imersa em uma grave crise e os emergentes já não mostram a mesma resistência ao desaquecimento mundial vista entre 2008 e 2009. Além disso, ressalta, há certa frustração com a demanda doméstica. "Com juros reais no patamar atual, em outras épocas o consumo estaria bombando", mas isso não ocorre hoje como resultado do comprometimento mais elevado da renda das famílias com dívidas, avalia.

Nos próximos meses, diz Caramaschi, esse problema deve ser parcialmente equacionado, já que a maioria das dívidas é de curto prazo. Com a expectativa de que a inadimplência passe a ceder, o afrouxamento das condições monetárias, a desoneração tributária para alguns setores e a fraca base de comparação devem dar algum alívio para a indústria no segundo semestre, o que compõe o quadro de forte retomada da economia esperada pelo economista. Caramaschi estima que o PIB irá crescer entre 1,7% e 2% por trimestre nos últimos seis meses de 2012.

Na avaliação de Eduardo Velho, economista-chefe da Prosper Corretora, a queda da confiança industrial em junho reforça um quadro ainda pessimista para a produção e os investimentos no segundo trimestre e indica que a economia só deve ter um crescimento mais próximo do potencial nos últimos três meses de 2012. Por isso, diz, sua projeção de crescimento de 2,1% em 2012 já parece um teto. Ele calcula que, se no segundo trimestre a economia crescer 0,6%, será necessário que o PIB brasileiro avance no mínimo 1,5% nos últimos dois trimestres do ano para que a expansão da atividade não seja inferior a 2% em 2012.

Em função do fraco desempenho da atividade industrial no início do segundo trimestre, o Credit Suisse reduziu ontem a projeção de crescimento para o Brasil neste ano de 2% para 1,5%. A estimativa da instituição para o ano incorpora a redução de 0,8% para 0,5% na projeção de crescimento para o período entre abril e junho, além de avanços de 1% e 1,5% nos trimestres seguintes, em relação aos três meses imediatamente anteriores. (Colaborou Gabriel Caprioli)