Título: Mais um aliado do PSB recusa a vice de Haddad
Autor: Cunto ,Raphael Di
Fonte: Valor Econômico, 21/06/2012, Política, p. A9

Com a saída de Erundina, o PT passou o dia em busca de outro nome. Favorito de Haddad, o advogado Pedro Dallari (PSB) declinou do convite. Segundo o presidente do PSB paulistano, vereador Eliseu Gabriel, o jurista, que é professor da Universidade de São Paulo (USP), pretende se dedicar à carreira acadêmica. Dallari tem ainda forte ligação com Erundina - foi secretário de Governo na gestão da ex-prefeita (1989-1992).

Sem Dallari, o PSB apresentou outros dois nomes: a deputada federal Keiko Ota e o suplente de deputado Marcelinho Carioca, que seria o puxador de votos do partido para a Câmara Municipal. Outra possibilidade em discussão é aproveitar a vaga de vice para convencer PCdoB e PTB a retirarem seus candidatos para apoiar Haddad. (ver reportagem abaixo)

Um dia após comunicar o PSB de sua desistência de concorrer à vice-prefeita de São Paulo na chapa de Fernando Haddad (PT), a deputada federal Luiza Erundina afirmou ontem que o petista havia minimizado a presença do deputado federal e ex-prefeito Paulo Maluf (PP-SP), adversário histórico do PT, na campanha.

"Ele [Haddad] disse que não estava nada certo e que não havia nada de concreto [com Maluf]. Repetiu que estava aguardando um telefonema para saber quando é que a aliança iria se dar, mas minimizou a importância dessa aliança e não colocou nada que pudesse significar o que se confirmou nos dias que se seguiram", disse Erundina.

A ex-prefeita contou que o encontro ocorreu na residência do ex-ministro no domingo à noite, depois que soube, pelas redes sociais e por contatos com sua militância, da possibilidade do acordo com Maluf. Antes disso, segundo Erundina, ninguém a havia alertado dessa possibilidade.

"Quem fez reunião com o PT foi o meu partido, os dirigentes nacionais. Consultada da disponibilidade que teria para ser vice, ninguém me falou que havia a possibilidade de aliança com Maluf", disse a deputada, que, no entanto, comentou o assunto no lançamento da aliança do PSB com os petistas na sexta-feira, quando foi anunciada como vice.

Erundina disse que a presença de Maluf prejudica Haddad. "Só atrapalha, desqualifica, afasta e tira a credibilidade das pessoas." No entanto, assegurou que fará campanha para o PT, desde que longe do "constrangimento" de estar ao lado de Maluf. "Eu e Maluf somos óleo e água. Não é questão pessoal, é política. É o que ele representa na política, o estrago que fez na política brasileira. Foi uma figura muito forte no regime militar, candidato biônico, prefeito biônico", disse.

A deputada lembra ainda da Comissão da Verdade, instalada pelo governo federal para apurar crimes cometidos durante o regime militar. "Essa figura [Maluf] foi de ponta na sustentação daquele regime. Inclusive como prefeito de São Paulo construiu cemitérios para a desova de militantes de esquerda. O cemitério de Perus [zona norte de São Paulo] foi construído por Maluf e a responsabilidade pelo que ocorreu nele também é dele."

Ela criticou também a forma como ocorreu a aliança. "Ele exigiu que o Lula fosse lá [até sua residência]. Ele quer aparecer com outra imagem que não a de procurado da Interpol. Ele tenta se higienizar com o outro lado, com forças que nada tem a ver com o malufismo", criticou a deputada.

Para ela, "a aliança é uma concessão de princípio". "Ter uma força dessa [na campanha], que tem um simbolismo tão forte e um passado tão cruel na cidadania brasileira, é ruim. [Maluf] Não pode ter o direito e a oportunidade sequer de protagonizar ou estar junto", reforçou.

Criticada por Erundina, a aliança com um adversário histórico é defendida pelo PT por render a Haddad um minuto e 39 segundos a mais de propaganda eleitoral na televisão e rádio - o que, por enquanto, o deixa como o candidato com mais tempo de TV. Para ela, é insuficiente. "O PT cedeu à prática eleitoral da supervalorização da mídia. Achar que o fator principal, maior ou talvez único em uma campanha é a mídia. Mas não é. O eleitor não é tão desinformado e sem critério assim. Há fatores muito mais determinantes", alertou.

Erundina evitou condenar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Disse não conviver com o petista "há muito tempo" e que ele "deve ter suas razões", mas se mostrou segura ao dizer que Lula e Maluf, no fundo, não se respeitam. "É mais a conveniência de agregar tempo de televisão. Acho que é importante mas não a ponto de sacrificar a história dessas pessoas", comentou.

A deputada ainda negou que foi a foto de Lula com Maluf, na mansão do ex-prefeito em um bairro nobre da cidade, que a fez desistir da vice-candidatura. "Não foi a mera foto. Não é isso. É o significado disso. A política é feita de símbolos", disse.