Título: Desoneração fiscal agrada, mas não entusiasma empresários gaúchos
Autor: Watanabe, Marta e Bueno, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 15/09/2006, Brasil, p. A4

Aproveitada por empresas de diferentes portes e setores, como o curtume Luiz Fuga, que faturou cerca de R$ 60 milhões em 2005, e o grupo siderúrgico Gerdau, com receita bruta consolidada de R$ 25,5 bilhões no ano passado, a "MP do Bem" agrada, mas não chega a entusiasmar os empresários gaúchos. Quem se beneficia diz que a desoneração do PIS e da Cofins sobre os investimentos ajuda a aliviar o fluxo de capital de giro, mas em alguns casos - como o da indústria calçadista - não consegue neutralizar os efeitos negativos da valorização cambial.

Conforme Emerson Fuga, diretor comercial da Luiz Fuga, de São Leopoldo, região metropolitana de Porto Alegre, a "MP do Bem" permitiu uma economia equivalente a 12% a 13% em tributos que incidiriam sobre US$ 1,7 milhão em investimentos previstos para o período 2005/06. O percentual representou um alívio no caixa e é superior aos 9,25% do PIS e da Cofins devido ao "efeito cascata" dessas contribuições sobre outros impostos, explica o empresário.

As exportações respondem por 80% a 85% do faturamento da Luiz Fuga, principalmente por conta de vendas para Europa e Ásia. A produção física cresceu 20% desde o início do ano passado, para 4,5 mil couros acabados e semi-acabados por dia, mas a expansão deve-se mais à demanda do mercado, que beneficia todo o setor, do que aos efeitos da MP, afirma Fuga. De acordo com a Associação das Indústrias de Curtumes do Estado (Aicsul), as vendas externas do setor cresceram 29,4% de janeiro a agosto em relação a igual período de 2005, para US$ 1,18 bilhão.

Na Calçados Wirth, de Dois Irmãos, a "MP do Bem" não foi suficiente para compensar o impacto negativo do câmbio sobre as exportações, diz o presidente Ricardo Wirth, também vice-presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados)

Segundo Wirth, 95% das vendas da empresa têm como destino o mercado externo, incluindo América do Norte, Europa, América do Sul e Austrália. Mas com o câmbio abaixo de R$ 2,30, considerado o "mínimo necessário" para garantir alguma margem nas exportações, a produção recuou de 11 mil para 9 mil pares por dia desde o início de 2005. "Para nós, o efeito da MP foi quase nulo sobre investimentos e formação de preços", diz.

A Gerdau, que até meados do ano que vem conclui um programa de investimentos de US$ 1,5 bilhão no aumento de capacidade de 3 milhões para 4,5 milhões de toneladas anuais de placas, blocos, tarugos e perfis estruturais da siderúrgica de Ouro Branco (MG), está se beneficiando do Recap. Segundo a empresa, a Açominas exporta hoje o equivalente a 70% da produção, mas como a exportação é o "objetivo central da expansão da capacidade", o percentual irá ultrapassar o mínimo de 80% exigido para a concessão do benefício.

O grupo prevê também mais uma etapa de ampliação da unidade com a implantação de novo equipamento de lingotamento , orçado em US$ 275 milhões, que entrará em operação em 2009.

A D'Itália Indústria de Móveis, de Bento Gonçalves, exporta para Europa e Estados Unidos 40% da produção, tentou enquadrar-se na "MP do Bem" com a cisão contábil das operações voltadas ao mercado internacional, revela o presidente Noemir Capoani. A Receita Federal, contudo, exigiu a separação física da produção para exportação. "Estamos trabalhando para isso", afirma Capoani. (SB)