Título: Com ausência dos ricos, conferência vira palco para os emergentes
Autor: Leahy , Joe
Fonte: Valor Econômico, 21/06/2012, Especial, p. A10

Ao anunciar os planos para a cúpula Rio +20, neste mês, o Ministério da Defesa do Brasil disse que se encarregaria de transportar os líderes e delegações de 10 países em desenvolvimento da África e do Caribe. "A expectativa, no momento, é de que essas aeronaves transportem 66 delegados, mas o número pode subir, conforme a demanda", disse o Ministério.

Esse show de hospitalidade foi visto por alguns observadores como um sinal de preocupação com que um número insuficiente de chefes de Estado estejam planejando participar da cúpula no Rio.

Essas preocupações estavam bem fundamentadas. Apesar importância do evento - 20 anos após a pioneira Cúpula da Terra (a Rio92), também no Rio -, o encontro não é alvo do nível esperado de interesse, sobretudo por parte do mundo desenvolvido.

Acredita-se que apenas dois líderes do Grupo dos Sete países industrializados - François Hollande, da França, e Mario Monti, da Itália - comparecerão. O presidente Barack Obama permanecerá em casa travando sua campanha eleitoral nos EUA, ao passo que outros políticos europeus estão ocupados com a crise da zona do euro. Os líderes do Canadá e do Japão, estarão em outros países.

Em contraste, figuras importantes dos países do Bric - Brasil, Rússia, Índia e China - deverão participar, o que leva alguns observadores a saudar um ponto de inflexão no palco mundial.

"Este é, potencialmente, o momento de referência para daqui a 10 anos, quando poderemos dizer que este foi quando as economias emergentes subiram ao palco e ganharam maior influência no processo internacional", disse Lasse Gustavsson, chefe da delegação do WWF no Rio de Janeiro.

Mas os países do Bric também foram alvo de críticas de alguns presentes no Rio por retardarem as negociações, ao insistir que não podem fazer mais pelo ambiente a menos que os países ricos contribuam deem ajuda financeira.

Meses de disputas que precederam a Cúpula do Rio sobre um dos temas que a ONU escolheu para a conferência: como criar uma economia verde que coloque o mundo em um caminho para o desenvolvimento sustentável.

Muitos países em desenvolvimento rejeitavam empregar o termo "economia verde", diz Martin Khor, diretor-executivo do think-tank Centro Sul. Eles temem que essa designação seja usada como justificativa para proteção do comércio ou para novas obrigações com as quais não podem arcar.

"Por isso, eles têm relutado em emprestar muita relevância ao termo "economia verde", insistindo em que se trata de um dos vários conceitos e ferramentas que podem ser usados para alcançar o desenvolvimento sustentável, e que não deveria ser usado como uma receita ou novo referencial para políticas internacionais", escreveu ele em um artigo recente.

Outros analistas advertem contra dar demasiada importância ao predomínio dos Brics na Rio+20. A razão pela qual alguns líderes não compareceram pode ser em parte burocrática. A atual agenda de cúpulas está lotada: houve um encontro do G-20 no México, alguns dias atrás, e haverá uma reunião do Conselho Europeu na próxima semana.

Chris Garman, analista do Eurasia Group, disse que a ausência dos países ricos deveu-se mais a uma fria avaliação da improbabilidade de que a Rio+20 venha a produzir resultados num momento de questões mais urgentes.

"Eles têm questões mais importantes para enfrentar, neste momento", disse ele.