Título: Presidente critica comportamento de FHC
Autor: Agostine, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 15/09/2006, Política, p. A9

Candidato à reeleição, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou duramente o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e disse que 81% das denúncias do caso Sanguessugas e Vampiro foram iniciados no governo de seu antecessor. Em mais um capítulo do embate entre tucanos e petistas, Lula lamentou as atitudes e declarações do tucano e afirmou que Fernando Henrique "não sabe se comportar como ex-presidente" e que "dá mais palpite" do que quando estava no Executivo.

"É difícil ficar fazendo julgamento. Só queria lembrar 81% dos casos que a Polícia Federal desmontou, envolvendo Sanguessuga e Operação Vampiro, começaram antes do meu governo, exatamente no governo de Fernando Henrique Cardoso", disse Lula, ontem, em entrevista ao telejornal "Jornal da Band". "Possivelmente ele não sabia, porque só se sabe quando é investigado".

Lula afirmou que não fez "10% das críticas" que recebeu de Fernando Henrique e que, pelo tucano ser um "homem letrado", seu comportamento torna-se incompreensível. "Ele está irritado porque não tem espaço político, porque tem rejeição muito forte. Mas um homem letrado não podia ter esse comportamento. De mim até é possível aceitar um comportamento mais rude, mas dele não". Por fim, disse que FHC fica "doente" quando os petistas exploram as comparações entre os dois governos.

Ao ser lembrado que os principais homens de sua campanha de 2002 - José Dirceu, Luiz Gushiken e Duda Mendonça- estavam afastados da campanha pela reeleição, Lula reconheceu que seus auxiliares cometeram erros no governo, disse que como presidente fez sua parte ao afastá-los e desconversou sobre as acusações que envolvem dirigentes do PT. O presidente não quis listar nomes de quem o teria traído no governo, mas disse que sentiu-se "traído porque o PT foi construído para ser o símbolo de fazer política" e que "o partido cometeu erros que não precisava".

"O PT foi construído para ser o símbolo de que era possível fazer política diferente. E de repente eu vejo algumas pessoas do PT enveredarem pelo mesmo círculo vicioso da política brasileira, achando que o PT poderia fazer o que todo mundo faz sem pagar nenhum preço. Eu me senti traído por quem cometeu erro " , disse Lula.

Como "lição" tirada do episódio do mensalão, Lula restringiu-se a dizer que "o erro não é de um partido ou de uma pessoa. É do sistema, que está apodrecido". Sem citar a PSDB, disse que o PT não fez aliança com a legenda porque "eles não quiseram conversar".

Também sem citar diretamente seu principal opositor na disputa pela Presidência, Geraldo Alckmin (PSDB), Lula atacou a política de segurança desenvolvida pelo tucano no governo de São Paulo, marcada por problemas com o crime organizado. "Vejo o tratamento da segurança como da enchente", comentou, e completou dizendo que questão só é lembrada quando o problema vem à tona. "Quando a coisa vai bem num estado, o governador sai correndo para dar entrevista. Quando não consegue (resolver o problema), diz: o governo federal é culpado.

A nossa parte não só fizemos como estamos dispostos a fazer muito mais". Lula disse que a construção de penitenciárias federais estava parada desde 1994, na gestão de Fernando Henrique e que não entende o motivo de o governo paulista ainda não ter encaminhado presos para a penitenciária federal entregue em Catanduvas, no Paraná.

No programa político que foi ao ar ontem à noite, Alckmin relacionou os problemas enfrentados em São Paulo com os ataques de facções criminosas à falta de ações do governo federal.

Ao fazer propaganda de seu governo na entrevista dada ontem, o presidente Lula afirmou que o país não cresceu mais porque o governo adotou uma política "responsável". "O Brasil não tinha cultura de crescer com inflação baixa", disse.

Questionado durante a entrevista sobre os problemas da estatal Petrobrás, na Bolívia, disse que a "atitude foi congelada". "A Bolívia é um país pobre, que precisa da ajuda do Brasil", disse. "Não briguei com nenhum país rico, por que vou brigar agora com o Evo?".