Título: Dívida pública da Espanha é a maior desde 1913
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 16/06/2012, Economia, p. 27

A dívida pública espanhola atingiu, no primeiro trimestre, o maior patamar em quase um século. Foram 774,549 bilhões, o equivalente a 72,1% do Produto Interno Bruto (PIB), informou ontem o Banco da Espanha, o banco central do país. Desde o primeiro trimestre de 2008, quando a crise financeira global estava em seus primórdios, a dívida espanhola dobrou: na ocasião, era de 377,917 bilhões, ou 35,5% do PIB do país, o menor patamar desde 1990, quando começa a série histórica do BC espanhol.

Mas dados coletados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) apontam que em 1913 a dívida espanhola atingiu 76,7% do PIB. A base do FMI remonta a 1880 - quando a Espanha, no reinado de Afonso XII, registrou uma dívida pública de 162% do PIB.

Metas de redução do déficit são "muito ambiciosas"

O FMI pediu ontem que o governo espanhol aumente o IVA (imposto sobre o consumo) agora, em vez de somente em 2013, e aprove o mais rapidamente possível um novo corte nos salários do funcionalismo, a fim de reduzir o déficit. Senão, alertou o organismo, a Espanha ultrapassará significativamente as metas acordadas com a União Europeia (UE). Para o FMI, tendo em vista a consolidação fiscal sem precedentes que o país atravessa, é melhor agir pelo lado da receita.

Em sua análise sobre a economia espanhola, o FMI admite que as perspectivas não são boas. "A economia está em meio a uma recessão com recaída sem precedentes, com o desemprego em níveis inaceitáveis, a dívida pública crescendo rapidamente e segmentos do setor financeiro com necessidade de recapitalização."

O FMI classifica de relevantes as medidas adotadas pela Espanha nos últimos meses, mas reconhece que o país não conseguiu recuperar a confiança dos mercados. Por isso, afirma, é preciso mirar na consolidação fiscal e na reestruturação do setor financeiro - o que inclui identificar os bancos que não sejam viáveis -, sem deixar de estimular o crescimento por meio de reformas estruturais.

O organismo considera as metas espanholas de redução do déficit - passar dos 8,9% de 2011 a 5,3% no fim deste ano e a 3% em 2013 - "muito ambiciosas" e, por isso, difíceis de alcançar, já que a arrecadação será fraca e os efeitos dos cortes de gastos demoram a ser sentidos. Por isso, os especialistas do FMI insistem que é preciso tomar mais medidas pelo lado da receita.

O FMI recomenda ainda o fim de uma dedução fiscal por família, que havia sido suspensa, mas foi restabelecida quando o atual governo assumiu, em dezembro. O organismo também fala em dar "mais ênfase às privatizações".

Alemanha: Espanha não precisará de mais recursos

As conclusões da equipe do FMI que esteve na Espanha nas últimas semanas - dentro da consulta anual, o chamado Artigo IV - são publicadas uma semana depois de o Conselho Executivo do organismo aprovar o relatório sobre o sistema financeiro da Espanha. Este prevê que os bancos do país precisam de uma injeção de recursos de 37 bilhões - a agência de classificação de risco Fitch, no entanto, já afirmou serão necessários até 100 bilhões.

Este é o valor inicialmente acordado com a UE há uma semana, a ser usado no saneamento do sistema financeiro espanhol. Mas a reação dos mercados, com os bônus do Tesouro espanhol tendo de pagar juros cada vez mais altos - ontem os papéis de 10 anos registraram 6,96% -, mostra que permanece a expectativa de um resgate mais amplo. Tentando acalmar os mercados, o ministério das Finanças alemão negou ontem que isso será necessário.