Título: Executivos brasileiros recebem os maiores salários da região
Autor: Giardino, Andrea
Fonte: Valor Econômico, 18/09/2006, EU &, p. D6

Com a valorização do real frente ao dólar, o executivo brasileiro passou a se r o mais bem pago de toda a América Latina, somando salário fixo e a parte variável. Hoje ele ganha 39% a mais que um venezuelano, possui salário 22% acima dos chilenos e chega a receber o dobro de um argentino. Deixa para trás, inclusive, vizinhos de peso como o é caso do México - que até o ano passado detinha o título de melhor pagador da região, reflexo de uma política salarial semelhante à adotada pelas empresas nos Estados Unidos-, ao registrar remuneração superior a 19%.

O cenário não implica, entretanto, maior poder de compra dos presidentes, diretores e gerentes no país. As cifras acabam acompanhando o alto custo de vida local (moradia e alimentação). É o que mostra pesquisa realizada pela consultoria Watson Wyatt, cedida com exclusividade para o Valor. Foram ouvidas cerca de 600 companhias, entre estrangeiras e nacionais, presentes nos 18 países latino-americanos. "Mas quando o profissional sai do Brasil, aí sim, o poder de compra dele se torna maior", afirma Marco Santana, gerente regional da empresa.

Se por um lado o câmbio fortaleceu os salários do alto escalão no Brasil, por outro, foi um dos grandes vilões de mercados próximos. Na Argentina, por exemplo, a inflação - fruto da crise de quatro anos atrás - atinge em cheio o bolso dos executivos, que de lá para cá vêm sofrendo com constantes perdas. Já o México enfrenta problemas com as mudanças na moeda local. "O peso desvalorizou consideravelmente, provocando a queda do país no ranking", analisa.

Diante dessa nova realidade, a exportação de executivos brasileiros para outros países na América Latina começa a diminuir, enquanto se intensifica a mobilidade de executivos argentinos e mexicanos pela região. Movimento, que segundo Santana, se explica pela questão dos salários mais altos. "É mais fácil atrair um argentino para o Brasil, que ganha menos em seu país e aqui tem a possibilidade de ter um up grade em seu pacote de remuneração", diz. Muito embora, no México já exista um mix de profissionais em cargos de chefia vindos de outros lugares como Brasil, Argentina e Colômbia.

A disparidade salarial, que fica bastante visível com as crises econômicas, ainda deve permanecer forte na América Latina, apesar de 50% das companhias ouvidas já terem centralizados suas políticas de remuneração e benefícios. Ou seja, as decisões são definidas pela matriz e replicadas para suas subsidiárias. "É claro que as filiais levam em consideração o panorama local, se há uma demanda ou oferta de executivos, o que implica diretamente no salário do profissional", observa Santana. "Mas a tendência de alinhamento das políticas é cada vez maior".

A remuneração variável, de acordo com a pesquisa da Watson, é adotada por mais de 95% das empresa instaladas na região. O pagamento feito por meio de bônus é mais agressivo na composição dos salários anuais dos argentinos, representando 40% do pacote, enquanto no Brasil essa fatia é de 35%, no México, 27% e Costa Rica, 23%. Em relação aos benefícios, há uma prática comum entre todos os países. As companhias oferecem seguro de vida, plano médico e automóvel como regra geral. A única exceção são os planos de previdência privada, que têm maior incidência nos pacotes de remuneração dos executivos brasileiros, com 84%.

Para 2006, a previsão da Watson quanto aos reajustes salariais é de que haja aumento real nos principais mercados latino-americanos, seguindo a mesma tendência do ano passado, quando eles tiveram o objetivo de recompor as perdas em conseqüência da inflação. A Venezuela deve apresentar o maior índice de reajuste, com 4,5%, seguido do Brasil, com 3,3%; Colômbia, 2,5%; Chile, 1,8%, México, 1,5% e Costa Rica; 1,2%. Já a Argentina será o único país a não conceder aumento para os executivos.